Tenho medo de quem sou. De quem, em tamanho mini, com cara de quem não sabe o que está acontecendo, acaba por mandar para o inferno o próprio diabo. É poder? É a sensação de poder maligno, descortinado no palco fechado, restrito aos íntimos. Não, não fui eu a deflagrar a Guerra no Oriente Médio, a insuflar terroristas, a detonar homens-bomba. Mas terei sido responsável pelo descalabro de outrem? Terei sido o gatilho para a infelicidade de alguém? Eu mesma, querendo ser feliz, fui trazer aflição para quem só queria amor?
Meu amor morreu na praia em completa agonia. Não recebeu socorro a tempo e não mostrou sinais de que morreria até expirar o último dos suspiros românticos. Que morresse, mas teria que levar junto algo mais? Amar não é intransitivo e ao se pôr põe junto as pessoas que dele se nutrem. Agora, sem energia suficiente, o que era minha forma de amar virou ossos secos sem miolos e brancos. Meu amor morreu sem cor, completamente desbotado de tanta luz do sol. Não o protegi de nada e não resistiu.
Acho que me perdi em alguma esquina. Virei o lado errado e não me dei conta. Deixei passar a janela aberta, a luz amarela e o cachorro dormindo na porta. Não olhei para trás e não posso mais voltar. Teria levado o olhar comigo se apenas esse fosse meu apego. Mas levei junto muito mais. Levei no mergulho minha sombra e meu silêncio, levei seu sorriso pronto e suas palavras incontidas. No mais, não me livrei de mim nem de você.
Ainda velo em prantos os momentos delicados que foram juntos para o mesmo luto. Velo sem entender ainda, sem explicar, sem suportar. Enterrem logo isso tudo para que tenham um pouco de paz meus olhos e meu respirar ainda enevoado, empoado dos mistérios do viver em par. Ou queimem tudo, não importa. Que das cinzas restantes se faça o pó dos móveis descuidados para que não ressuscite jamais em outra vida devoradora. Só quero ser alimento de amores ternos e dedicados.
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