segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Equilíbrio é uma questão de escolha


Certa vez li uma coisa intrigante: que o homem era o único ser natural que investia contra a natureza. Assim, levantou-se em duas pernas e, contra toda lei da aerodinâmica, passou a andar em equilíbrio. Se tudo nasce, vive e morre, o homem luta contra a morte, criando estratégias para prolongar ao máximo a sobrevida em qualquer situação. A natureza deixa que uma inteligência maior lhe dirija os rumos; o homem tomou para si o papel de co-criador, interferindo, desviando e tentando de todas as maneiras assumir o controle. Não é um elemento dentro da humanidade, é a maior parte dos homens. Então, isso deve ter um significado.

Agora em meio a um novo momento de renovação, escuto outra frase: o equilíbrio é uma questão de escolha. Pessoal. Ninguém deve ter falado para aquele primeiro humano a tentar andar em duas pernas que isso era improvável. E se falaram, ele não escutou. Você pode ter medo em circunstâncias de risco, pode ter medo em momentos de grande felicidade, é uma questão de escolha. Há quem tenha medo de altura, há os que têm medo de espaços amplos, os que têm medo de tudo. É uma escolha.
E os percalços que a vida nos propõe? E as rés no barranco? E quando a coisa não dá certo quando tinha tudo para dar? Não existe aquilo de errado. Difícil aceitar isso, mas tenho que. O rio começa torto antes de seguir para o mar. Parece indeciso, parece fraco. E é. Talvez por isso nossa percepção de tempo, tão absoluta e tão necessária. A criança engatinha até firmar-se. Precisa de atenção até sair por sua própria conta.

Talvez, então, o que ocorra é que não nos preparamos para as fases seguintes, com a cabeça. Porque o coração está sempre preparado. O coração pega a estrada e sai procurando uma emoção que o prenda. E depois, se desprende, emocionado ou esgotado. A cabeça quer ficar de fora. Quer entender tudo. Quer se preparar para a morte, se preparar para a perda, se preparar para o pulo. Mas quem pensa não pula. Quem pensa não escorrega para o outro lado do abismo. Ou, pelo menos, tenta.

Queria conseguir alinhar esses dois teimosos: fazer com que uma cabeça muito distante se torne próxima, e que um coração intenso amenize suas crises. A felicidade não é um momento perdido entre muitas dores. Começa no primeiro gesto que tenta. Tentar andar sobre duas pernas, tentar passar por um espaço exíguo, tentar fazer de sua vida uma existência significativa. A cada tentativa, mesmo as que minguam. A lua míngua todo mês e desaparece.

No final, tudo é uma questão de interpretação. Que natureza é essa que dizemos conhecer onde o homem não pode andar sobre duas pernas? Que sabemos nós do que é o universo para achar que a vida acaba com a morte? Será que estamos na idade média do medo em pensar que a lua que desaparece nunca mais vai voltar? Que o equilíbrio está em acreditar mais do que em entender? Acreditar, sim, é a união do pensar com o sentir.