Mas o que esperar de um relacionamento? Que ele possa acrescentar,
fazer uma diferença, ser importante, dar importância. Que traga significados
além dos ansiados. Que seja um sim.
O sim é especialmente
mais importante que quaisquer outros pontos. Sim quer dizer: quando um não quer e o outro quer, sim. Quando houver uma divergência de
pontos de vista, nenhum precisa ganhar, não é uma competição. É inclusivo. Mais
ou menos como dizer: eu não concordo, mas compreendo.
Sim quer dizer
ultrapassar limites auto impostos, conformados, não questionados. É uma
possibilidade de reflexão, de autoanálise, de tomar consciência. É uma abertura
para poder crescer onde, talvez, de outra maneira nunca teria sido tocado.
Sim é soma. É
andar no escuro. É confiar. E confiar é tudo num relacionamento. Mais que tudo.
Não existe relacionamento sem confiança. O resto é apenas tensão, jogo de azar,
desgaste desnecessário, relação de poder. Confiar é trilhar um caminho com
entrega, com bondade. Embora haja o risco, embora haja incerteza, ainda assim,
dar o passo. Confiança é a árvore que está dentro da semente.
Sim é encontrar
encantamento onde até o pó já se instalou. É contar histórias, rir do próprio
erro. Sobretudo, é não ter medo de errar. E se tiver medo, não se deixar subjulgar
por ele. Pode haver encantamento na teia de aranha, que surgiu de um dia para
outro, ou no desenho que a água do chuveiro faz no azulejo. Há beleza nos olhos
dos animais, nas folhas que caem das árvores, mesmo que nos faça varrer o
quintal todo dia.
Deixar entrar o sim
na vida, entre duas pessoas, é como derramar a calda sobre o pudim: deixa tudo
mais gostoso. Porque, de outra maneira, era melhor ficar sozinho. Viver numa
ilha. O desafio de estar perto, de poder esbarrar um no outro, ou de escolher
estar junto, esse desafio é o que torna a vida mais interessante. Porque uma
vida-sim não é a solução mais fácil.
É a melhor. É a mais importante. E o que é importante, não se faz assim, de
qualquer jeito.
O sim é a
diferença que acrescenta assunto na vida. Apenas pelo motivo de que, a negativa
exclui possibilidades. Enquanto o sim
abre espaços e, se não ilumina por si, promove chances de iluminar. Ele estende
fronteiras, amplia horizontes, faz o sol tardar a se esconder.
Sem detrimento de encontrarmos significados na trajetória
individual – porque o crescimento de cada um é individual – a vida se traduz em
mais significados quando se deixa permear por outra. Universos únicos e
completos, de todo jeito, podem se tornar mais conscientes no contato.
Relacionamento é relacionamento, seja ele afetivo, fraterno,
profissional. Todos igualmente sim.
Todos plurais, possíveis, luminosos. Todas as pessoas procuram relacionamentos
significantes, gratificantes, por mais que se sintam bem consigo mesmas.
Procuram no externo aquilo que é reflexo de si mesmas: sua divindade. Veem nos
entes amados o brilho e a luz que, aos poucos, vão se apropriando como sua
também.
Então, o que diferencia uma amizade de um relacionamento
afetivo? Por que as pessoas não se casam com amigos? Talvez porque amigos não
precisam de compromissos formais. É uma união estável e livre. E o
relacionamento afetivo se compromete no tempo e no espaço para que as mudanças
necessárias para o crescimento possam se instalar, pouco a pouco, degrau por degrau.
Porque crescer exige esforço, não é um mecanismo automático, requer atitude.
Precisa ser alimentado, ser cuidado. A amizade é um relacionamento mais fácil
porque é sempre sim, não precisa de
nada. O afetivo precisa ser lembrado de quando em quando que querer caminhar
lado a lado não significa impor o ritmo de um sobre o outro, que viver junto
não significa ter que gostar das mesmas coisas, do mesmo jeito, no mesmo tempo.
Diferenças não são um problema no relacionamento, o crucial é saber aceitá-las.