Porque tudo passa um dia. Tudo finda. Tudo morre. A vida que
nasce está morrendo. E morrer é correr para uma direção sabida: onde não haverá
mais mortes. Passa o tempo, passa a dor, as mágoas passam. Passa deixando
vestígio ou não. Cicatrizes de ferimentos antigos deixados à mostra para nunca
mais esquecer. Passa a tristeza de haver dor depois de ter acreditado na beleza.
Acaba como tudo.
Difícil é entender para onde vai tudo que morre. E qual é o
sentido de viver uma vida que finda, extenua. A flor vermelha balançando no
galho pelo vento leve, a flor beijada pela abelha, ela também vai desaparecer. A
abelha, o vento e o galho, tudo, tudo, tudo morre. Como a água que escorre no
regato, e vai embora, batendo de pedra em pedra fazendo espuma. Como o pó da
estrada que levanta e pousa nas folhas das árvores, ficando no ar um pouco.
Mas tudo acaba? O mundo não acaba. Acabam os homens, os
dinossauros. O que é grande não acaba. O vento para, a brisa cessa, o mar vai e
volta. As folhas verdes caem no outono amarelo. E o olhar fica à espera do
olhar que se perdeu. O oceano acaba do outro lado da praia. O horizonte não
acaba mesmo recortado por montanhas. Não acaba o amor.
O sorriso um dia também vai da boca que beijou e gostou do
beijo. Vai embora o olhar que sorri e o gosto de doce na língua. O encanto
gasta como fósforo que já acendeu. E o amor. O amor parece que não. É dessas
grandezas que ficam porque é firme, e é firme sem nunca ter sido dura. Amor
parece que é de outro mundo, de outra esfera. De um lugar que nada morre e
permanece. Um lugar de sonho ou etéreo como o olhar.
Dá para beber dessa água sem nunca se enfastiar. Dá para
beber do amor e nunca mais morrer. Porque é possível tanto quanto impossível. É
acordar do sonho e continuar sonhando. O amor é a luz de um dia que não
termina. O dia todo, meio-dia. Quente. Claro. Sorriso de dentes aparentes. O amor
é o antídoto para a morte.
A vida que ama, não morre. Não passa. Só transcorre. Atravessa
a estrada rumo ao impalpável e ao incorpóreo. E, se a alma não morre porque
ama, também o corpo que ama não morrerá. Velejará no vento, subirá nas pedras, sofrerá
as dores de haver neurônios por todo lado, mas não envelhecerá. O olhar de
menina retornando no rosto faceiro de novo. O amor faz renascer e perpetuar. O verdadeiro
amor.