E aprender para que? Porque tudo que você aprende com alguém
só serviu para aquela experiência. Não serve para outra pessoa. Tudo que você sofreu
em um momento só tem a ver com aquele momento. Seu momento histórico. Por isso
o mal é a ignorância. Pagou? Próximo, por favor.
Agora, o amor não. Tudo que foi bom de viver é só lembrar
que faz um sorriso espontâneo no rosto. O corpo todo sorri. É bom de lembrar
tanto quanto foi de viver. Bom, mas bom mesmo. Fez bem para mais alguém? Não
importa agora. Você está sorrindo de lembrar como se voltasse a viver tudo de
novo. Assim é o amor. É um gerúndio contente.
Portanto, o bem e o mal também têm a ver com o tempo, outra
miragem. O tempo que apaga o que foi escrito na pedra, que realça a cicatriz e
melhora o gosto de tudo. O bem é o presente. O mal é o passado. Todo passado é
mal? Não, mas todo aquele que deixa você atado num instante que já passou é. A
dor não passa, a tristeza não passa, a vontade não passa, você não passa. Fica
parado, prisioneiro de uma fantasia, de algo que já não existe mais. Já foi.
E no mal e no bem, nesse revezamento entre o amor e a
ignorância, na alternância ou repetição de cada um, a vida entre as pessoas vai
se tramando. Repleta de laços e nós. Uns mais apertados, outros soltos.
Complexos como se a vida fosse um grande paradoxo. Quem pode negar que a
amizade é um laço forte, mas frouxo? É para sempre e, no entanto, é livre. É
total, mas é leve. E nessa liberdade incondicional ainda assim é exigente: pede
reciprocidade. Por exemplo, você conhece alguma amizade platônica? Amizade é a
oitava superior do amor. Desapegado, necessariamente, e unido.
O amor e o ódio, a mesma coisa. O mesmo lado do rio. A mesma
carne, o mesmo sangue. E a dor? não fará par inconteste da intensidade? Quanto
mais intenso, maior a dor, se houver dor. A intensidade é uma moeda que tem por
face a paixão, dizendo quanto vale. E do outro lado, na insígnia, ela diz o seu
preço. Dá para ter um desconto? Na intensidade não.
Assim, simples. Um dia, os deuses estavam entediados e
resolveram criar. Criaram o átimo, a centelha criativa de si mesmos, para que
pudesse, infinitamente, continuar criando e criando. Criando vida e morte, e
renascimento e sublimação, forjando-se em si mesmas, as criaturas criadoras. E
para que criassem assim, indefinidamente, plantaram uma semente em duas partes que
se buscam no sem tempo da criação, procurando o sentido de haver tanta insatisfação
e felicidade juntas. Aqui, diferente do joio e do trigo, eliminar uma é
interromper a outra. O um é o saber conviver.