As sementes verdes e imaturas não brotam, ao invés disso, apodrecem na terra fértil. Chove a água cósmica e bate-lhes o sol da manhã, dourado e morno, e ainda assim, não vingam. Não é suficiente que recebam cuidados, que tenham carinhos, que olhos atentos acompanhem seu desabrochar: não brotam, não fincam raízes, não se aprofundam para subir ao ar e crescer ramos e galhos e flores e frutos.
A promessa, no entanto, existia em ser semente. Foi antes do tempo? Ou ainda amadurecerá, seca, guardada em algum armário escuro? Como saber sua maturidade olhando assim para fora, olhando para o que ela mostra, uma semente? Estará pronta?
Não colocarei na terra para que não apodreça. Não colocarei ao sol para que não se iniba. Esperarei pacientemente que seu tempo chegue e chegue a mim o seu momento. Para que possa enveredar com seu brotar no mesmo instante abrindo-se para o céu e penetrando a terra macia.
Mas esperarei quanto? Algumas horas, talvez dias e noites, talvez vidas inteiras? Quando chegará o exato instante em que, completamente natural como o nascer do sol, ela tenha amadurecido e expectante de minha mão que apenas fará o que ela não pode fazer por si: despojá-la na terra úmida.
Insuportável espera essa de se ver com a semente na mão sem saber se ela está pronta. Se ela é uma árvore à minha espera ou se é apenas aquilo que a terra irá comer. Haverá um tempo em que ela deixará de ser fértil para ser senil? Terei esperado demais, talvez? Agora, toda aquela energia que estava ali sendo preparada para explodir em vida, agora, sem me dar mais tempo, virou orvalho, virou névoa fina, evaporou?
Ah, o tempo do plantio e o tempo do pousio tão difícil de saber quando se deixou há tanto tempo de colocar o pé na terra, de ouvir a voz que vem de dentro do peito, o mesmo peito que faz as flores murcharem e a cabeça adormecer tranquila.
Depois de perder tantas sementes apodrecidas, de perder tantas sem nunca lhes dar o que despertar, agora eis que tomo uma ainda para mim, como uma nova chance, uma semente surpresa, uma semente deixada para trás em que lhe pese todo o seu destino de árvore, seu destino de fruto, mas assim mesmo segura de seu compromisso. Ela precisará de muita coragem para romper a casca seca que lhe recobre toda, precisará de muita vontade de se ofuscar pelo sol para abrir os braços demoradamente num espreguiçar quase lento, quase perfeito.
Então, passarei pelo vão da porta, sairei de onde estou apenas vislumbrando o dia que está nascendo, a planta que está surgindo, a mulher que está florindo no novo amor que está amanhecendo, sairei da segurança da casa para o céu aberto do terreiro e serei eu a semente posta na terra a germinar, serei eu a romper com quem fui, abrindo-me, despindo-me, cumprindo a promessa que havia feito num tempo qualquer, quando não era mais que uma semente a flutuar.