- Gosto de ficar em silêncio com
você.
- Sim, eu também te amo.
- Gosto de ficar em silêncio com você
e poder deitar meu olhar no seu olhar quase timidamente, quase naturalmente,
como quem apenas respira, como se a vida pudesse ser eternamente esse olhar você
tão próximo que é tocar um violão.
- A música... sabe, eu queria dançar.
- Piano de calda, flauta transversal
no tempo e a nota musical dançando no seu sorriso que não desmonta, que
permanece mesmo depois que acabou o motivo, que fica no gosto, na língua, mesmo
depois de engolir. Sorriso que fica no meu olhar como um toque delicado, um
sorriso que faz um sorriso em mim também.
- Às vezes eu não entendo nada do que
você fala...
- Mas o encantamento persiste.
Persiste como a luz da lua noite adentro, como estrelas no escuro sem lua, ou
no brilho invisível dos olhos do gato quando não há nem estrelas. O
encantamento que vem feito onda de mar, banhando o peito até que todo o abdômen
se deixe levar pelo ritmo leve e morno. O encantamento, no entanto, queima,
fogo sem fim, incandescente, abrasador.
- Você me perturba um pouco quando
fica com esse olhar vidrado, meio torto, meio parado. Eu não sei falar bem, me
perco um pouco no meio de tanta palavra.
- Mesmo quando o sol não abre e o
frio se instala nos meus pés, eu espero por você, espero sua mão na minha,
espero seu olhar no meu. Mesmo quando demora para amanhecer ou há mais fumaça
do que chama, em todos os momentos, a solidão não me atinge, porque eu sei quem
é você.
- Nossa, o dia foi intenso, muito movimento,
me deu um cansaço. Posso apagar a luz?