quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Eu quero a ética


Fico muito intrigada com a natureza humana. Eu acredito na humanidade, embora tenha momentos e tenham pessoas que me façam duvidar. Veja só, houve um tempo em que civilizações hoje tidas como primitivas cometiam canibalismo. Assim, uma determinada tribo entrava em guerra com outra e os vitoriosos comiam partes do corpo do herói inimigo. Faziam isso não porque gostavam de carne humana, mas para se apropriar da coragem, da bravura, do heroísmo do outro. Foram excomungados posteriormente. Foram dizimados pelos que se consideravam superiores. Essas práticas foram abolidas, nenhum ritual antropofágico será visto sem uma punição adequada nas sociedades modernas.

Mas foram só os rituais canibais que foram abolidos, a prática não. Continuo vendo canibalismo no mundo ultra científico, internauta, virtual, pós moderno, de hoje em dia. São empresas que engolem outras acreditando que isso seja normal. Normalíssimo, mesmo quando não dá mais para defender um capitalismo selvagem de outrora. São colegas de trabalho sendo estimulados a devorar o outro para que a empresa se posicione melhor no mercado. Não se acomode, coma.

Pessoas continuam praticando o canibalismo quando se separam e devoram tudo que era do outro, numa tentativa de ocupar o espaço que esse um ocupava. Fica amigo de quem nem gostava, faz o que aquele fazia. Parece que assim ficam quites. O outro se foi, mas, em compensação, tudo que era dele agora é meu. Pensamento apenas, nada de antropofagia, claro. O mundo moderno é virtual. Faz de conta.

Ainda assim, acredito na humanidade. Eu não posso crer que pessoas sem ética, profanadoras, possam seguir impunes indefinidamente. Não consigo acreditar que elas possam destruir com o poder e respaldo de vitoriosos numa guerra que elas próprias proclamaram, consagrando-se heróis pela destruição que promovem. Pessoas que agem em nome de uma coletividade porque eleita por ela, e que a traem sem nenhuma culpa. Que traem princípios, quando os têm. Que se justificam e acreditam nessa justificativa como crianças que acreditam nos contos de fada. Mas crianças não têm responsabilidade porque são crianças. Não se espera que tenham.

Eu quero a ética acima de tudo. A ética que não gagueja, que fala presente na hora em que é chamada. Eu acredito na ética. A ética que não defende valores pessoais, parciais, e que limpa toda a sujeira que ainda é possível que uma pessoa faça. Eu acredito que o fogo da ética vá reduzir à cinza sem remorso todo aquele que irresponsavelmente quiser devorar o outro, quiser ficar onde não lhe pertence, que faz a guerra para não ver mudar, para não renovar, que prefere ver cair a casa do que mudar de lugar. O canibalismo disfarçado que existe hoje em dia ainda vai ter fim. E eu vou ver isso daqui, da terra que escolhi.