segunda-feira, 5 de abril de 2010

Não sou tão brilhante para acompanhar você

Eu não sou tão brilhante para acompanhar você. Dá para aprender a ser alegre? Ou tinha que ter nascido assim? Dá para aprender a viver em paz? Eu que vim da guerra tenho chance de aprender a calma? Se para viver ao seu lado tenho que aprender o colorido da vida, que eu amo intensamente, conseguirei aprender sozinha?

Ando desajeitada. Desajeitada, tento compreender o que se passa. Desajeitada e errando muito arrisco alguns passos na sua direção, que é luz, é plenitude. Não sei se reconhecerei a tranqüilidade quando chegar lá. Quando puder abrir a janela do quarto de manhã querendo comer a vida que pulsa lá fora depois do amanhecer. Parece que continuo no escuro. Parece que continuo entrincheirada.

Fui atraída pela sua luz como as borboletas noturnas. A noite era minha vida. E agora que saí de onde estava sem chegar a lugar algum, não sei mais se continuo cinza ou começo a amanhecer também. Eu queria ter podido aprender com você um pouco de fazer luz. Mas não consegui.

Vou embora sem ter aprendido a amar. A confiar. Eu que pensei ter confiado na vida, acho que nunca confiei em nada. Estou presa no escuro. A cabeça no céu, os pés enfiados na terra dura e seca. Estéril. Seca e sonhando com o mar transparente do seu olhar. Também não tive tempo de aprender com você a ser transparente como o mar. Ao invés disso, fiquei invisível.

Quanta dor tenho no peito por amar o amor! Ou não é amor o que penso que sinto. Quando amanheceu a minha vida recentemente, pensei que não voltaria a anoitecer. Pensei que seria dia claro e iluminado o resto da minha vida. Que poderia levantar e tomar café porque a vida continuaria brilhando por horas e horas a fio. Eu pensei que o sol que se abriu queimaria todas teias e cinzas que se acumularam em mim com tanta tristeza.

Por que carrego essa dor em mim como se fosse parte da minha alma? Por que não aprendi a confiar, a dar simplesmente. Por que deixei quem amava na primeira dificuldade? Por que não deixei quem não amava depois de tanto peso? Por que erro insistentemente no amor? Peço demais, talvez. Quero demais, certamente. Sonho mas não creio em sonhos. Realizo mas não valorizo. Presa de um círculo vicioso de querer errado, doer, me esconder e voltar a querer errado. Quero apenas a luz.

Como reconhecer minha luz no meio da tristeza instalada há tanto tempo que não consigo mais desaloja-la? Talvez tenha apenas que ficar iluminando meu coração abrindo o peito sem medo. Sem amor. Achando tranqüilidade não há nada mais. Achando que vale a pena o caminho que não tem promessa alguma. O que deus espera me mostrar com isso? Paciência para aprender, talvez. Paciência e paz no meio da fome.