Tem palavras que não faria falta nenhuma não sabermos. Distância, ausência, saudade. Por que lembrar faz uma série de química no corpo que nos provoca efeitos nem sempre sob controle? Eu queria olhar para o dia triste que se forma lá fora, sem sol, sem chuva, com pouca luz difusa, sem vento, sem brisa, e achar que a chegada do verão é apenas uma mudança, não um fim. Eu queria saber acreditar e tanta coisa seria diferente.
Lá fora a grama cresce solta sem limites. E as flores também. Onde cresce o mato cresce o amor também. Um amor áspero como o dia que não se define. Um amor selvagem, subindo entre as ervas que plantei com carinho e atenção. É tudo verde, tudo verde, mas um é mato e o outro é erva. Com um farei chás, perfumarei pratos, lembrarei de coisas que vivi ou viverei; com outro escondo o que fiz. Deixo-me medrar solta a liberdade profunda de ser, única, indomável, impenetrável.
Não digo que não aprendi nada com isso. Claro que sim. Já não tenho dores de cabeça como antes, com uma pressão no alto me lembrando que a vida não é feita só de emoções, mas também, e muito, de razões. Qual a razão da planta? Que estratégia de vida a árvore tem para si? Minhas cachorras entrando em casa e cheirando os gatos têm um suspeito motivo. Todos querem atenção. Todos. É para isso que uns fazem flores, outros fazem perfumes, outros fazem doces. Para ter abelhas rondando, para ter beija-flores beijando. Para ter olhares carentes profissionais nos dobrando e deixando ficar, deixando ser. Razões que geram emoções, ás vezes até atitudes.