segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Já é tarde

Já é tarde mas ainda é cedo para dormir. Então, sento e penso um pouco antes de ceder a tentação de querer, desejar, arder com a chuva fina e fria que cai lá fora. Fria e indiferente de mim, cai e passa como se me visse sempre, sem mudanças.

Mudei, bem sei, subi a montanha que parecia intransponível e atravessei o túnel sem certeza do caminho. Mudei de casa para uma outra que me conforta quando chego e me acolhe quando chove, como hoje. O frio úmido da rua me lembra que já tive as mãos frias também. O passado se encarrega de passar enquanto olho apaixonada para as estrelas que estão atrás da chuva que cai. Elas são meu amanhã.

Será que a estrela da manhã me quererá? Será que aceitará meu silêncio quando me pergunta o que quero? Meu silêncio em resposta àquilo que sei me entregará, me mostrará nua e desprotegida, tal qual sou e tal qual sinto. O silêncio que é minha melhor resposta para todas as perguntas que me tocam profundamente. E que levará algum tempo para eu reunir as palavras que expressem fiel e integralmente o meu sentir assim.

Mas eu também tenho meu sorriso em resposta. E eis que nele concentro todo o meu coração desatinado e desobediente imprudentemente otimista. Mais uma vez latejante como não via há tempos, trêmulo sem ser de frio. Um tanto impulsivo, um tanto medroso, chefia uma revolução que me desarma. Eu, que acabei de voltar do front, que precisei pegar em armas para me defender, faço das trincheiras de agora uma forma de plantar flores para velar o deus da guerra que se foi.

Enfim, o sono me vence. Vou dormir sabendo que não serei desperta por um beijo encantado, mas pelo hálito fresco da manhã que desmancha todas as ilusões da noite. Que sopra para longe os devaneios dos sonhos inacabados, deixando uma sensação no ar de que tudo pode ser.

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