terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Coincidências

Será que todas coincidências são divinas? Haverá aquelas que são apenas a tentação, o mal que vem nos testar os princípios, os sentidos, as emoções? Quando é que o cruzar de dois caminhos pode e deve ser apenas um cruzamento passageiro, para não ser levado a sério – ou a sério apenas num curto tempo -, para não abater a ave em pleno vôo, ela que bate as asas tão feliz, deixando o vento soprar-lhe a fronte um murmúrio quase um gemido de prazer?

Ah, a dor que a alegria intensa demais provoca na pele, no estômago, esquentando o peito e fazendo o pulso acelerar. A dor que é estar feliz e parar subitamente para pensar que esta felicidade é como andar no parapeito da janela do décimo oitavo andar de um prédio, descalço e desprotegido.

Por que será que as coisas intensamente boas têm que vir em par, binômios difíceis de conjugar, tão difíceis como prazer e angústia, como querer e deixar, como falar sem falar pelos olhos que se desviam para não confessar. Minha confissão já é minha sentença.

Eu queria tanto ser absolutamente louca o suficiente para pular de um trampolim tão alto que apenas a confiança de que haja água embaixo é a segurança de que não saltarei em vão. Serei ou não serei tão desatinadamente doida que não ouvirei nada e ninguém, nem minha lucidez estritamente racional me desaconselhando, numa tentativa quase inútil de me demover de agir, de tomar o primeiro gole do que pode ser um veneno ou um elixir.

Eu que sempre creio nas possibilidades beirando a ilusão, a fantasia desordenada de viver como paixão, viver intensamente, viver como se fosse o último dia da vida, eu que tantas vezes me deixei acreditar que nuvens no céu são anjos brincando de pintar, acreditei num sonho idílico, nas margaridas do caminho floreando a passagem, acreditei, meu Deus, que a felicidade pode ser tangível, palpável, eu agora não queria escutar a voz de quem me manda recuar, uma placa com a seta apontando para a razão, para o certo, do outro lado e não do lado que resolvi seguir.

Não, talvez eu esteja apenas tentando flutuar me apoiando num navio que parte noutra direção. Atrelei minha vida ao de um cavalo selvagem, indomável, aquele tipo de emoção que fascina e apavora, enlouquece, entorpece, vicia.

Mas agora, devendo ou não partir, estou presa. Completamente aprisionada de uma tal forma que quanto mais me movo ou me aflijo mais me envolvo e me enrolo. Sobreviverei? Ou talvez não devesse pensar naquilo que não tenho como predizer, pode ser ou não ser, porque são desígnios dourados, sagrados, escritos antes mesmo que houvesse mundo ou que o mundo se soubesse criado. Como saber, meu Deus, se é um presente ou um mistério, apenas uma imagem para ser adorada, querida, apenas um desejo para ser sentido. Até hoje, me bastava sonhar. Mas agora, agora que levantei o pé para o próximo passo e estendi a mão numa procura, tenho que interromper o gesto pois o que tenho é sonho.

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