Acordei na madrugada para surfar o futuro. Fui na onda deixando-me levar ainda um pouco tímida, um pouco instável, a primeira vez que tento me equilibrar em pé no mar. O mar de enlevos e cristalino, que me anuncia sem falar, que me aponta sem tocar. Enfim o sonho acordado de uma noite já dormida em que tudo é o porvir, por-ser, por-encantar.
O bom de sonhar o futuro, assim de olhos abertos, despertos, é que tenho opção de vê-lo alegre e feliz, ou não. De sentir o perfume de camélias que fazem chá também, de ver o colorido pungente de nastúrcios amarelos e vermelhos e laranjas no meio de sua roupagem verde, de sentir o calor do sol amenizado pela brisa fria do sombreado que as árvores fazem sob a sinfonia de pássaros, todos eles afinados, cada um a sua própria melodia.
Então, ao invés de perder o humor por ter que me levantar antes da hora, sento na cama e me permito sorrir sem ser vista, o escuro ainda por todo o quarto. O gato ronrona de prazer, mas ainda dormindo. E o mar se abre para eu passar.
Existem noites em que é quase impossível andar sobre a água, em que é quase inalcançável o fruto proibido, que quase não consigo beber do cálice sagrado. Mas outras ainda existem em que tudo é permitido, tudo é fácil e sem escrúpulos, tudo é desimpedido e livre. Limpo de cabeça e coração. Como no tempo em que não havia pecados, que não havia certo e errado, e que as pessoas viviam sem julgar, sem morrer.
Penso num futuro que pode ser e o destino inevitável de tudo. O sem-fim e o horizonte margeando tudo. Tudo de forma absoluta e relativa, difícil de entender com a cabeça, apenas o coração sentindo. As decisões repletas de medos e fascínios, de enigmas e cartas marcadas. Um frio na boca do estômago me lembra de que acordei e um tremor leve percorre todo meu corpo.
Ai, errar faz parte, mas eu não queria. Eu queria escolher apenas as flores mais lindas, mais perfumadas e mais coloridas para encher meu peito de alegria, e meus olhos da luz de mais um dia que amanhece tão certo quanto pode ser um amanhã sonhado.
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