Quem é o dono do seu
tempo? Quem decide o que é prioritário para você? Quem define o que é melhor para você? Porque, se há alguma coisa
realmente sua nessa vida, essa é o
seu tempo. Talvez, da mesma forma que o amor esteja na base dos sentimentos, o
tempo está na fonte das ações.
O que você tem feito da
vida é exatamente o que você tem feito do seu tempo. O que dá tempo de fazer e
o que não dá? E por que não deu? Era importante? Realmente? Esse movimento
externo, uma infinidade de compromissos, é realmente necessário? Mas se todos
são resultados de suas escolhas, por que alguns dão e outros não?
A liberdade das pessoas
foi uma necessidade fundamental do mundo moderno. Não haveria a sociedade que
vivemos hoje, nem o sistema financeiro atual se não houvesse liberdade, se
algumas pessoas tivessem que ser tratadas como escravas, alimentadas, cuidadas
as suas doenças, que se tivesse que pensar em tudo para sua existência. Um escravo
é um ônus, apesar de ser um bem, precisa sobreviver para continuar exercendo
suas funções de escravos e fazer valer os investimentos.
Mas, por outro lado, a
liberdade total é uma ferramenta que impede controles. Portanto, eis que uma
solução para deixar de se preocupar com a sobrevivência dos escravos é dar-lhes
liberdade relativa mantendo o
controle sobre condições fundamentais de modo que essa liberdade nunca seja
efetivamente exercida.
Liberdade sem tempo para
escolher, refletir e agir é apenas desamparo, uma esteira de academia onde, por
mais que você corra, não chega em lugar algum.
A farsa da liberdade é uma
das melhores ferramentas de controle já implantadas na humanidade: melhor que
qualquer arma nuclear – porque não oferece risco ao poder de exercê-lo. Essa farsa
também pode ser chamada de escassez. Quando falta o básico não se tem tempo de
pensar no fundamental.
Pessoas que estão em busca
de alimentar-se não têm tempo de pensar nas suas deliberações, decisões, na
vida enfim. Quais serão suas escolhas? Não há. A vida na escassez é uma forma
brilhante de manter escravos sem precisar se preocupar mais em alimentá-los e
em como sobreviverão: pois, por não serem mais bens que exigem cuidados, se não
sobreviverem, não empobrecerão ninguém.
Além do mais, a escassez é
autoimune. Ela se corrobora, se nutre de modo a permanecer na pequenez, ela se
reforça ao olhar no espelho: a imagem vista é do fracasso, um conceito
amplamente disseminado do que é bom e desejável e aquilo que você não tem com seus esforços. Todo o
sucesso é medido por bens que você corre muito por adquirir, sejam bens
materiais que indicam seu status social, sejam bens imateriais como
conhecimento e cultura. No entanto, a pirâmide de que você faz parte e mantém
diariamente com muito empenho, correndo na esteira, é fortemente estruturada no
tempo. A escassez não é de condições, mas de tempo. Aquilo que você persegue
como um objetivo à frente é algo que sempre estará à frente, longe do seu braço
pois você está firmemente preso por uma corda chamada tempo.
Onde você pretende chegar
sem tempo? O sistema assim estabelecido não tem como falhar nem como ser
derrubado. Dentro dele você só se esforça muito, mas sempre o manterá intacto.
Como subverter esse
sistema? Parando. Parando de correr atrás de tudo que você pensa que está à sua
frente, num impossível amanhã. Parando de acreditar que tudo que você tem é
pouco e tudo de que precisa está fora de você. Parando de dar prioridade para
tudo e qualquer coisa externa, seja essa coisa algo tão louvável como filhos,
casa, emprego, casamento, contas para pagar, comida na mesa. Porque essas
coisas todas estão ali exatamente para você estar aí: na prisão.
O tempo é uma medida
interna, mental, como tudo. A escassez só existe na pirâmide. Ela é uma
invenção muito boa para os que estão na ponta; no entanto, a natureza não é piramidal.
Você quer e realmente se dispõe a exercer seu tempo, deixando de se sentir
desamparado? Para sair dessa pirâmide há que assumir todos os riscos por si e
parar de se justificar. E isso é um crescimento para dentro, que exige
prioridade para si. E muita coragem.