domingo, 15 de março de 2020

Quem é dono do seu tempo?


Quem é o dono do seu tempo? Quem decide o que é prioritário para você? Quem define o que é melhor para você? Porque, se há alguma coisa realmente sua nessa vida, essa é o seu tempo. Talvez, da mesma forma que o amor esteja na base dos sentimentos, o tempo está na fonte das ações.

O que você tem feito da vida é exatamente o que você tem feito do seu tempo. O que dá tempo de fazer e o que não dá? E por que não deu? Era importante? Realmente? Esse movimento externo, uma infinidade de compromissos, é realmente necessário? Mas se todos são resultados de suas escolhas, por que alguns dão e outros não?

A liberdade das pessoas foi uma necessidade fundamental do mundo moderno. Não haveria a sociedade que vivemos hoje, nem o sistema financeiro atual se não houvesse liberdade, se algumas pessoas tivessem que ser tratadas como escravas, alimentadas, cuidadas as suas doenças, que se tivesse que pensar em tudo para sua existência. Um escravo é um ônus, apesar de ser um bem, precisa sobreviver para continuar exercendo suas funções de escravos e fazer valer os investimentos.

Mas, por outro lado, a liberdade total é uma ferramenta que impede controles. Portanto, eis que uma solução para deixar de se preocupar com a sobrevivência dos escravos é dar-lhes liberdade relativa mantendo o controle sobre condições fundamentais de modo que essa liberdade nunca seja efetivamente exercida.

Liberdade sem tempo para escolher, refletir e agir é apenas desamparo, uma esteira de academia onde, por mais que você corra, não chega em lugar algum.
A farsa da liberdade é uma das melhores ferramentas de controle já implantadas na humanidade: melhor que qualquer arma nuclear – porque não oferece risco ao poder de exercê-lo. Essa farsa também pode ser chamada de escassez. Quando falta o básico não se tem tempo de pensar no fundamental.
Pessoas que estão em busca de alimentar-se não têm tempo de pensar nas suas deliberações, decisões, na vida enfim. Quais serão suas escolhas? Não há. A vida na escassez é uma forma brilhante de manter escravos sem precisar se preocupar mais em alimentá-los e em como sobreviverão: pois, por não serem mais bens que exigem cuidados, se não sobreviverem, não empobrecerão ninguém.

Além do mais, a escassez é autoimune. Ela se corrobora, se nutre de modo a permanecer na pequenez, ela se reforça ao olhar no espelho: a imagem vista é do fracasso, um conceito amplamente disseminado do que é bom e desejável e aquilo que você não tem com seus esforços. Todo o sucesso é medido por bens que você corre muito por adquirir, sejam bens materiais que indicam seu status social, sejam bens imateriais como conhecimento e cultura. No entanto, a pirâmide de que você faz parte e mantém diariamente com muito empenho, correndo na esteira, é fortemente estruturada no tempo. A escassez não é de condições, mas de tempo. Aquilo que você persegue como um objetivo à frente é algo que sempre estará à frente, longe do seu braço pois você está firmemente preso por uma corda chamada tempo.

Onde você pretende chegar sem tempo? O sistema assim estabelecido não tem como falhar nem como ser derrubado. Dentro dele você só se esforça muito, mas sempre o manterá intacto.

Como subverter esse sistema? Parando. Parando de correr atrás de tudo que você pensa que está à sua frente, num impossível amanhã. Parando de acreditar que tudo que você tem é pouco e tudo de que precisa está fora de você. Parando de dar prioridade para tudo e qualquer coisa externa, seja essa coisa algo tão louvável como filhos, casa, emprego, casamento, contas para pagar, comida na mesa. Porque essas coisas todas estão ali exatamente para você estar aí: na prisão.

O tempo é uma medida interna, mental, como tudo. A escassez só existe na pirâmide. Ela é uma invenção muito boa para os que estão na ponta; no entanto, a natureza não é piramidal. Você quer e realmente se dispõe a exercer seu tempo, deixando de se sentir desamparado? Para sair dessa pirâmide há que assumir todos os riscos por si e parar de se justificar. E isso é um crescimento para dentro, que exige prioridade para si. E muita coragem.


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