A madrugada é uma mulher exigente. Além de sustentá-la, com meu corpo, tenho também que presenteá-la. Mal chega, me tira da cama para mostrar-lhe tudo que sei fazer. E precisa ser bom. Acorda-me com um sopro no ouvido, leve e doce como uma mulher deve ser. Sua delicadeza é tal que insisto nos meus sonhos. Ela vem de novo me atiçar fazendo cócegas nas pernas. Então me rendo. Vou logo ao seu encontro antes que me provoque a ponto de não mais me controlar.
Aqui estou apenas para seus caprichos. E mimos. Não deixo de atendê-la em absolutamente nenhum de seus pedidos. Depois, mesmo que não me peça, realizo tudo da noite anterior que mais lhe agradou. E sigo feliz assim acordando para ser dela, inteiramente dela. Com ou sem abusos, e ela é sempre abusada. Toda enfeitada de estrelas, e ainda vestida de estrela da manhã, apenas para que eu a desfaça. Sua nudez me encanta e por fim estou completamente entregue, desejando o seu desejo.
Vou com ela sim. É só que me chame, vou. Quero puxar um cobertor para proteger-me do frio e ela me demove, lânguida, para que a abrace e me esquente. Abraço de corpo inteiro, colado, pulsante, que esquenta o peito com relâmpagos elétricos na boca do estômago. Arrepios, não mais de frio, percorrem minha pele. A respiração profunda e rápida acelera ainda mais. Então, satisfeita com os resultados de sua investida, vira-se de costas para que beije seu pescoço escondido sob seus cabelos soltos. Instiga-me até que me canse e eu queira também um beijo. E ela não dá.
É um veneno. Libera em meu sangue todo desejo que há e me deixa, sua voz de travesseiro me perturbando. É como estou agora, só e acompanhando a chuva lá fora, gota a gota, caindo sobre as pedras. Sem enxergar nada posto que ainda está escuro. E sem derrubar uma lágrima sequer apesar da hora.
Agora, velo seu sono aquietada. Se não posso tê-la de outra forma, que seja velando seus sonhos, zelando para que não lhe acordem, amando em silêncio e feliz porque sei que é meu o seu amor também. Quando começa a clarear, por fim, dou-me por vencida, levanto e faço-lhe o café para que não saia sem comer nada. Gosta de tudo, dá-me um beijo que tanto quis e se vai com um vestido de bruma comprido arrastando uma calda tênue até deixar a manhã em seu lugar. Um abajur colorido aceso vai trocando as cores antes escuras pelos azuis que viram luz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário