Por que te amo? E o amor, o que é? Por que a beleza? E por
que você tão bela no seu sorriso amoroso? Por que a entrega? E por que
acreditar em amor? Por que amar? E o que é amar? Deixe-me aqui no perdido da
hora, lembrando de quando havia um vazio, havia um silêncio onde agora há essa
música sem fim. Deixe-me aqui elucubrando na noite que se vai apenas por não
saber respostas.
Enquanto o tempo deixa de existir, porque o amor é parecido
com um relógio quebrado, não passa o tempo, enquanto a espera não é um peso, e
o que espero é você, enquanto isso, vou amando a lembrança doce da sua pele
apenas passando pela minha. E vou vivendo tudo como se fosse outra vez, e outra
e outra. Como são os nossos dias e noites, cheios de vida.
O que, amor, é o amor? Cheio de calafrios e de arrepios
desordenados, que atravessam os músculos como um raio. Que é, que é, amor? Essas
coisas que percorrem o corpo, percorrem a memória, percorrem a alma até fundir
tudo num só, eu, estátua que um artista esculpiu de haver você, a inspiração
para tudo o mais. A vida que a arte não imita, ela mesma a arte de viver.
O que é isso que faz o sangue mais quente, e o olhar mais
quente, e a música mais quente? Que provoca uma dança onde antes eram só
pernas, que promove um balé onde antes eram só braços e corpos desconsertados e
sozinhos. Vãos. Impuros como o beijo. Inócuos como olhos fechados. O que? Explique-me,
você que me impacta só de existir, que me chama pelo nome mesmo antes de saber
qual é.
Talvez haja um novo nome, um novo significado para o que já
foi amor. Porque o que sei hoje, depois de ter amado tanto e me perdido em
tanto amar, o que sei que preenche os espaços, os silêncios e os espaços entre
os corpos distanciados, o que sei infinitamente que me faz pulsar e querer e
sentir cada célula do corpo no movimento da sua cintura, isso é mais que amor. Porque
amo amar você.
E no gesto improvável que é amar o amor, amo você tão
simplesmente como há chuva depois do sol, ou há mar depois da montanha. Há a
noite depois do beijo, e há gatos arranhando as portas, e há gosto depois de
morrer nos braços, nos seus braços. Não, amor não é o nome. É outra coisa. É um
gesto? É física, química, matemática, línguas? Que sonho, invenção de peça
pregada fora do palco, um teatro de sombra e luz, qual o nome?
Não. Haverá um deus a inventar o nome para isso que sinto
por você, já que inventou o sentir? Haverá uma palavra apenas para significar o
modo como o seu olhar olha o meu, a quase prender-me o ar, levar-me a alma,
queda livre sem paraquedas? Haverá uma única palavra que poderá dizer tudo o
que tenho para dizer, que representa tudo que já foi dito antes e tudo que
haverá por falar e cantar e sonhar e que é a única expressão em letra e som do
que me faz na pele o simples lembrar você?
Então, que esse deus também invente um jeito para que isso
que sinto se renove, se prolongue, se transmute a cada novo momento que passo e
que passa, inteiro, poesia falada no vento, perdida e espalhada, que chega a
todos os lados e todos os sentidos, poesia para ser proclamada como uma prece,
sussurrada ao ouvido, tremor, amor.
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