Como dói ver desaparecer dos olhos o que a memória guarda como bons tempos vividos juntos. Dói no estômago a falta que faz aquilo que por tantos dias e noites foram dias e noites em comum. E, se passou, um dia também essa dor passará, talvez passe também da memória essa lembrança cotidiana e ainda real.
Por hora me resta sobreviver, pensar nas alegrias que me esperam um outro tempo que possa dar sentido a esse vazio no peito. Agora, no entanto, é como se não houvesse amanhã. É como se fosse o fim da estrada. A falta de escolha do fim da estrada. Arrumar coragem onde só há pedras soltas, mato e nenhum outro sinal de vida.
Nesse instante, o que escuto é o zumbido das moscas, perdidas, enganadas pela luz, o resto é silêncio. O coração batendo no peito anuncia cansaço. E tudo só está começando.
Dói amar como dói partir, a mesma friagem na boca do estômago. O mesmo relâmpago sem trovão. Partir, sim, é quebrar-se. Partir porque não se cabe mais naquela realidade tornada estreita, quando? Como foi se estreitando que não senti apertar até que não tinha mais como me mexer? Eu, que queria a liberdade do vento que passa como um beijo nas faces desprotegidas. Não vi o momento que abafava e não havia sequer uma brisa para balançar os cabelos. Não havia o ar fresco de que precisava. Sequer havia ar.
Enquanto estou em suspenso, as pessoas do outro lado do mundo estão se preparando para sentar-se à mesa, comungando o prato que fizeram juntas, das vidas que ainda se alargam com o passar do tempo.
Queria deixar de ouvir esse zumbido de mosca voando à toa, zonza, presa na minha cozinha quando há tanto espaço lá fora para voar. Agora que tenho ar, faltam-me pulmões fortes para sorvê-lo. A dor como forma de sentir a vida, não é isso que quero mais. Não quero mais a dor romântica dos amores impossíveis, não correspondidos, nem os amores explosivos, opressores, que apertam como se fosse um abraço de bem querer mas que são apenas prisão de braços.
Há alguns instantes, jurava que o que vivia era o aconchego quente dos desejos correspondidos e, repentinamente, caída de uma mudança que não vira operar-se, fiquei no meio do caminho entre o que foi – o que foi? – e o que será – que será, meu Deus? Eu própria sujeito de minha história, narradora onipresente, olhando pela janela deixei passar Carolina. Deixei passar o rio feito onda levando tudo, repentinamente. Eu não queria ficar só.
E é isso o amor? Um buraco que se abre no peito quando o tempo o faz pequeno? Uma falta na vida da gente quando se acorda no meio da noite e não há ninguém para abraçar e sorrir? Sorrir sozinho, o sorriso de quem lembra como foi o dia anterior, não importa se bom ou não, mas que naquele momento da madrugada alentada pelo calor da intimidade, faz sorrir sozinho.
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