domingo, 22 de novembro de 2009

Não acredito em Deus

Eu não acredito em deus. Em um deus onipresente, onipotente, vingativo, humano. Tornado homem de tanto julgar. Tornado carne de tanto ser pensado por homens. Que consciência tenho do meu coração que bate, bate automaticamente em resposta às emoções mais estranhas e mais comuns que posso ter? Que consciência posso ter das minhas células transformadas em meu corpo, trocadas e descartadas com o passar do tempo, até que me canse e pare simplesmente.

Não, deus não pode ter respostas humanas, escolhas humanas, não pode estar em toda parte em todo o tempo. Não pode me ver e saber de mim e de você ao mesmo tempo. E se assim fosse, o que saberia? Para que saberia? Se não interferiria nos meus caminhos, nas minhas escolhas. Se não mexeria em nada meus caminhos tortos e curvos.

Eu sou uma estrada cheia de bifurcações e saídas, muitas e muitas entradas e várias porteiras. Como me seguir? Como me acompanhar? Sigo sozinha a maior parte do tempo porque meu tempo é diferente. Eu o conto por pulso e não por segundos. A cada pulsar sou e não sou. Uma estrada por abrir no meio da mata, uma picada aberta distantemente, quase uma lembrança, quase um rascunho. Mas um caminho que segue adiante. Decidido e tímido, longo e curto.

Eu não acredito em um deus que não conta histórias para crianças, que não conta que sonhos teve à noite, que gosto tem o chocolate ou que cor são os olhos fechados de um gato. Andando no meu quintal, acredito mais nas plantas que brotam, nas árvores que crescem, nas flores que se dão de graça, nas abelhas zumbindo por todo lado. Acredito no silêncio das raízes penetrando a terra. Acredito na luz que vem do vermelho e verde confundidos na primavera. Acredito no sangue que corre nas minhas veias e acredito que tudo isso está ligado por um fio invisível. Invisível como a palavra dita, como uma história contada. Deus é um fio invisível.

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