A casa que
procuro é uma casa na roça. Não é difícil querer uma casa na roça. A roça muda
todo dia: a cada estação é de uma cor. Tem poeira e barro se revezando. Tem
pássaros cantando. Deve ter uns 50 tons de verde. Ou mais. Tem o frio quando é
frio e tem calor quando é calor (verdade, não é um cenário). E quando esse
campo é uma montanha, então, tudo fica ainda mais divertido. Os pinheiros são
altíssimos. Neles, esquilos sobem e descem numa destreza que encanta. As copas das
árvores se encontram contra o céu azul, desenhando rendas ao crepúsculo.
Nessa
montanha está minha casa me esperando. Uma casa quentinha no frio e fresquinha
no verão. Bem iluminada, que suporte cães e gatos no quintal. Não me importo se
alguma galinha do vizinho vier me visitar. Quero uma casa simpática, cômoda.
Que goste de receber amigos e onde meus amigos gostarão de vir. Com uma cozinha
boa, espaçosa, que caiba uma grande mesa ao redor da qual todos se sentarão
para conversar antes de comer.
Minha casa
tem lareira onde crepita a lenha fazendo uma chama brincante. O fogo é da mesma
natureza da alma, então, na sala, o calor inspira poesias e amores incansáveis.
Enquanto isso, lá fora pode a chuva cair e o frio branquear tudo. Pode fazer um
breu nas noites sem lua ou silêncio de arrepiar. Podem os insetos ficar batendo
na lâmpada, no vidro da janela, a vida toda que há quando escurece bem e tudo
acalma. O fogo do coração não deixará que nasçam flores amarelas e medrosas no
peito.
Dela, nos
dias de azul infinito, verei passar um anjo escondido sob a forma de nuvem,
magnífico. Cavalos passarão ruidosos na estrada, acompanhados de cães ruidosos.
E sobre eles, homens e mulheres conversarão sobre a vida que passa olhando de
mais em cima, por sobre os muros, sobre as cercas vivas, coloridas. Verei um
olhar se esgueirar para dentro do meu quintal, buscando o cheiro do jasmim
florido.
Essa casa,
que procuro para viver a felicidade do agora, está pronta, ou está ficando
pronta para mim. Está na urgência dos que têm sede e que sabem onde encontrar
água. O vento já está varrendo o seu telhado de todas as emoções impregnadas e
esquecidas de outrem. O sal da terra seca todos os animismos por ventura
perdidos pelo caminho. O orvalho da manhã caído na grama e folhagens começa a
preparar novas vidas, germinar o novo. Tudo para que eu leve o fogo da alegria
para iluminar cada canto da casa.
Minha casa
tem paredes que esperam por meus livros. Livros que contam histórias dessa vida
e da outra. Livros que me fazem viajar para outros mundos, outros olhos, para
além da paisagem da janela. Paredes cujas prateleiras esconderão a cor da
pintura desenhando em seu lugar as cores das especiarias.
Ela tem
dois quartos para que eu possa receber amigos buscando a aventura da montanha. Amigos
que me privem de sua companhia para conversas da madrugada. Ou para um café da
manhã na varanda. Ou apenas para registrar na minha vida mais um dia em que fui
feliz.
Se você ao
andar por essas estradas reconhecer essa casa, se você souber onde ela está ou
como posso encontrá-la, por favor, me avise. Mande-me sinais de fumaça, acenda
um laser no telhado, estoure rojões no quintal, empine uma pipa vermelha bem
alta me apontando o local. Me avise que eu vou morar nela. E depois, venha
tomar um café comigo.
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