sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O amor é uma terapia



Talvez o amor seja a alta de todas as terapias, de todos os tratamentos, a cura de todos os males, o alívio de todas as dores, o ar que faltava, o calor que não havia. Talvez bastasse apenas para cada um de nós aceitar o amor para que ele nos libertasse. Deixasse-nos sentados na calma, deitados nos braços da confiança, encantados. Sim, porque, diferentemente dos demais animais que são por natureza encantados, o homem é um ser que se deixa encantar. Às vezes.

O amor me deu alta um tempo atrás. Deixei de tomar remédios. Deixei de ter medo. Deixei tanta coisa que me prendia no chão, me fazia descrer, me desatinava, tanto nó que até tive trabalho para me acostumar depois de solta. Não é engraçado? Passamos a vida inteira procurando ser felizes e tudo que fazemos é nos acostumar com a dor. A felicidade é uma ameaça ao sossego anterior. Que não era sossego coisa nenhuma. Era apenas acomodação.

O amor cura e nos faz inquietos, com certeza. Porque o amor, primeiro, quer se mostrar, mostrar para todo mundo que está ali, vivo, pulsante. Depois, quer mais. Não é esse querer insatisfeito de quando não há amor. É o querer ver todo mundo alegre também. O amor é desses sentimentos transbordantes, exagerados, dramáticos e cômicos. Pague o seu ingresso e sente na primeira fila. Não vai se arrepender. 

Mas o amor também é de natureza ígnea. Consome-se. Há que ter cuidado em não deixar que se apague. E o amor apagado ostenta medo. Não aquele medo que acompanha o fascínio, aquele medo que é um frio interno, um arrepio, um relâmpago ensaiando para se romper em trovão e clarão, o medo que move, faz brilhar os olhos, se alimenta de incertezas, e desperta o prazer. Não, o medo que faz um amor sem chama é conhecido por ira. Ciúme. Possessividade, desencorajamento, insegurança, imobilidade. Todos eles filhos da falta de amor.

O amor de verdade acende, ilumina, aquece. Faz dormir tranquilo, mas em geral precisa dormir pouco. Desperta o apetite, embora prefira o leve e frugal. O amor prescinde de cobranças, mas precisa de pedidos. É silencioso, mas é uma festa. Enfim, o amor se alimenta de contrastes e ainda assim promove a igualdade. Dava para não fazer mais nada. Apenas amar. 

Mas afinal, é o amor o fim de todas as terapias ou é amar? Porque amar é um gesto, amor é uma qualidade. Uma qualidade como, por exemplo, o arco-íris, que é todo colorido por sua natureza festiva. E não seria festivo nascer do encontro entre sol e chuva? Agora, o gesto não. Não nasce de nada, é a manifestação do desejo. Se quero, faço. Se faço, arrisco. E se arrisco, meio caminho andado. Mas preciso querer, antes de tudo. Decidir.

Talvez seja amar o fim de todas as dores. Amar como se fosse o último dia de vida, fosse o último gole de água, a última tecla intacta no piano. No princípio era o verbo, e no final também. O tempo todo é o verbo. 

O verbo liberta, é independente, escancara a intenção. Sim, amar liberta o peito, liberta os sonhos como se abrisse as comportas das emoções incontidas. Sim, sim e sim. Amar está em mim e me faz nascer música na caixa toráxica. Retumbante. Bloco de carnaval. O som do pão bem assado. Que sacia. Mas amar é um verbo intransitivo? (aí já é outra conversa).

Nenhum comentário:

Postar um comentário