Com você o mundo fica pequeno e cabe no meu caminho. Tanta
palavra linda, tanta frase de efeito, e só tenho no peito o nome seu tatuado
com tinta invisível, desde que nasci, desde sempre. Junto com tantos outros
nomes, é verdade. Tantos nomes de quem nem sei, procuro sem procurar, acho sem
perceber.
Não é verdade que amo você. É verdade que tudo fica melhor
com você. E porque tudo fica lindo, e tudo fica alegre, veja, sei que é amor.
Amor como a flor que nasce na árvore antes da fruta. Amor como o leite que
surge com o filho. Amor como tantos outros que são de graça e pela graça.
Mas não é seu. É meu. É um sentimento que nasce no peito e
não se contém em ficar ali. Desce palpitando pelas veias correndo o corpo todo
e aquecendo feito lenha queimando. Percorre a pele num arrepio descontrolado
como os trovões em dias de chuva muita e muita eletricidade. Em nuvens de
relâmpagos e luzes e ventos em que meu peito explode e quase não cabe por
dentro. Amor, sim, raios batucando pelo céu da boca. Amor de saliva doce. De
pão crescendo e perfumando tudo, até dar fome.
Sim, o mundo fica pequeno porque você preenche todos os
espaços vazios e me faz subir, flutuar, bolhas de champagne estalando na taça. Bolhas
de sabão fazendo arco-íris no ar. Leve como a folha que cai. E leve como a
borboleta que voa. Leve e úmido como a brisa fresca de depois da chuva. De
depois.
A alegria é um reino escondido para ser descoberto. Que
aparece com uma palavra mágica, com a magia de olhos que se hipnotizam,
capturam, resgatam. Os olhos que descobri um dia na floresta do meu desejo. Em
dia alto, com sol a prumo, com todas as vidas acordadas e reluzentes, porque o
amor dos deuses é do olimpo: aberto como o girassol, amplo como o nascer do
dia, e infinito como o horizonte. Todo ele um olhar. Brilho de sorriso. Perfume
silvestre que só abelha sente.
Sem segredos, sem mistérios, sem vestígios. É assim que
encontro o amor no nome que é seu. O amor que vai além de todos os outros que
já vivi porque simplesmente não é amor. Não é uma qualidade, um sentimento, uma
emoção. É apenas um estrondo de neurônios se reconhecendo. Apenas um percorrer
descalço pela areia da praia aonde o mar ainda chega a lamber.
O encontro inesperado do colibri com o que a flor não
mostra. Eis o meu encontro com você nos dias que se sucedem, um ao outro sem
dor, desatentos e coloridos. A voz rouca de gargalhar a noite inteira. E o
cansaço bom e molhado de suor. Despreocupado como um regato. O meu amor tem um
tempo para você no meu caminho. É só você querer seguir comigo um pouco pela
estrada que virá. É só você querer deixar a chuva cair, o vento passar, a lua
nascer; querer subir a montanha, descer com os pés descalços pelo mato que há
em volta. É só você querer.
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