A inteligência me apaixona. Não falo apenas da inteligência
matemática do pássaro que alça voo, mas do momento exato em que abre as asas e
salta para o vazio. A inteligência que ri, solta gargalhadas, espirituosa e
leve, que vê luz onde quer que se vire, que faz luz onde quer que alcance. E a
inteligência que faz lágrimas escorrerem sem querer, a pele arrepiada, um tremor
no peito, faz emoção aflorar fácil, ondas pela pele e o olhar embaçando.
A inteligência que é sensível me atrai. Que captura o
instante e imortaliza em uma palavra, um gesto, um passo. O passo fugidio do
inesperado, a ponta dos pés. Que passa a língua sobre o sal e fala doce, macio.
Que é perspicaz, mas não cortante; que é líquido, mas não derretido. Comedido e
desmedido. Irremediável.
Porque existe uma inteligência que anda em trilhos e no fio
da navalha. Que só vê certo e errado na vida, que separa o joio do trigo, que
não come arroz com feijão. Quer achar o difícil das coisas e não vê o fácil ululante.
E a mim me toca aquela que consegue ver o brilho no olhar da formiga ou da
cigarra. Que não tem medo de misturar azul com vermelho. Que saboreia o doce
com o azedo. Que escorrega na água da chuva. E, ao cair, joga água em quem não
caiu e ri junto. Ri muito.
O sorriso no rosto solto é dessas inteligências que fazem
bonito. A mão que acena e o queixo que cumprimenta também. O olhar que sorri é inteligência.
Sorri para o adeus doendo e para o reencontro sofrido. Sorri para a falta de
palavras e para o silêncio que faltava. Sorri para tudo que deixou de ser
porque os horários não bateram, porque as expectativas não bateram, ou porque
bateu demais. Para a ausência, para as costas de todos os que se viraram, e
para os braços abertos de todos os amantes. Sorri presente.
Talvez a maior inteligência seja o riso. Maior que a
matemática, a física quântica, maior que o entendimento sobre o oculto e
indesvendável. O riso quieto, secreto, que ninguém viu, nem você, que emerge de
um recôndito submerso momento em que, na perseguição do que viu, o olhar perdeu
a si mesmo. E ele ria.
Não, nenhum saber se iguala ao que sabe um sorriso. Nem a
plástica colorida de uma tela de klimt, nem a envergadura mais colorida de um
mozart, ou a densidade provocante e cinza de pina. Mas o saber que a arte tem que
se aproxima mais é aquele fechar o olho para sentir por dentro, é aquela
sensação em cascata que vai enchendo o peito, transbordando em algo que precisa
ser expressado também, compartilhado, transmutado. A arte, sim, é dessas
inteligências que são sabedoria. Que atingem o cerne da alma quando atingem o
coração e a pele. Ali, nesse plano, a arte encontra o sorriso. E a vida se
completa.
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