quarta-feira, 20 de março de 2013

O sorriso é Arte



A inteligência me apaixona. Não falo apenas da inteligência matemática do pássaro que alça voo, mas do momento exato em que abre as asas e salta para o vazio. A inteligência que ri, solta gargalhadas, espirituosa e leve, que vê luz onde quer que se vire, que faz luz onde quer que alcance. E a inteligência que faz lágrimas escorrerem sem querer, a pele arrepiada, um tremor no peito, faz emoção aflorar fácil, ondas pela pele e o olhar embaçando.

A inteligência que é sensível me atrai. Que captura o instante e imortaliza em uma palavra, um gesto, um passo. O passo fugidio do inesperado, a ponta dos pés. Que passa a língua sobre o sal e fala doce, macio. Que é perspicaz, mas não cortante; que é líquido, mas não derretido. Comedido e desmedido. Irremediável.

Porque existe uma inteligência que anda em trilhos e no fio da navalha. Que só vê certo e errado na vida, que separa o joio do trigo, que não come arroz com feijão. Quer achar o difícil das coisas e não vê o fácil ululante. E a mim me toca aquela que consegue ver o brilho no olhar da formiga ou da cigarra. Que não tem medo de misturar azul com vermelho. Que saboreia o doce com o azedo. Que escorrega na água da chuva. E, ao cair, joga água em quem não caiu e ri junto. Ri muito.

O sorriso no rosto solto é dessas inteligências que fazem bonito. A mão que acena e o queixo que cumprimenta também. O olhar que sorri é inteligência. Sorri para o adeus doendo e para o reencontro sofrido. Sorri para a falta de palavras e para o silêncio que faltava. Sorri para tudo que deixou de ser porque os horários não bateram, porque as expectativas não bateram, ou porque bateu demais. Para a ausência, para as costas de todos os que se viraram, e para os braços abertos de todos os amantes. Sorri presente.

Talvez a maior inteligência seja o riso. Maior que a matemática, a física quântica, maior que o entendimento sobre o oculto e indesvendável. O riso quieto, secreto, que ninguém viu, nem você, que emerge de um recôndito submerso momento em que, na perseguição do que viu, o olhar perdeu a si mesmo. E ele ria. 

Não, nenhum saber se iguala ao que sabe um sorriso. Nem a plástica colorida de uma tela de klimt, nem a envergadura mais colorida de um mozart, ou a densidade provocante e cinza de pina. Mas o saber que a arte tem que se aproxima mais é aquele fechar o olho para sentir por dentro, é aquela sensação em cascata que vai enchendo o peito, transbordando em algo que precisa ser expressado também, compartilhado, transmutado. A arte, sim, é dessas inteligências que são sabedoria. Que atingem o cerne da alma quando atingem o coração e a pele. Ali, nesse plano, a arte encontra o sorriso. E a vida se completa.

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