sexta-feira, 22 de março de 2013

O amor passa



Eu não entendo o amor, mas de nada adiantaria entender. O que aprendo com um não serve para outro. E o que erro com esse não é erro com aquele. Não, definitivamente, amor não é uma coisa para ser compreendida, sabida, pensada. Pura emoção, ou sentimento, ou apenas um bocado de neurônios emaranhados uns nos outros até chegar num lugar do cérebro que se reconheça: sim, é amor. Imagine que é o cérebro dizendo isso. O coração, que sabe ele sobre amor ou outra coisa qualquer?

Existe uma geografia do amor? Ao norte, extremo norte, a oitava acima do amor mais conhecida por amizade. Ao sul, um sentimento de insegurança e fragilidade chamado comumente de ciúme. A leste e oeste, os braços, imprescindíveis, abertos, cruzados às costas do outro, ou ao longo, ao largo, também atendendo pelo nome de abraço. Na cabeceira, o olhar desenvolto. Uma palavra marcada no mapa: eu. Você está fora do mapa, fora do alcance. Coordenada desprogramada e desmarcada.

Talvez a natureza do amor não seja espacial mas temporal. Dura um tempo determinado pelo combustível. Esse combustível que, por natureza própria, queima, vai se consumindo no trajeto. E depois, quando apenas sobre o ar – se não chegou a sufocar – num vazio de significados, a intimidade vira atrito. Um atrito sem fogo e sem paixão. A impaciência, o desânimo, a estupidez. A lua de mel termina com o despertador todo dia de manhã.

Mas que amor é esse que não suporta a realidade? Que não consegue conviver com as sombras e os escuros, inadvertidos pontos sem cor ou sem luz, papel caído atrás da gaveta, poeira cósmica. Tem amor duro, inquebrantável, sílex cortante, mais duro que o sorriso negado? Amor que lavra o peito duro e escorraçado com arado afiado. E que espera com isso uma semente mágica, salvadora. Que amor é esse que não transpõe a colina? Pois a tempestade é mais bonita lá de cima. 

Ou o amor é coisa para ser apenas luminoso e alegre, um lugar para ser abandonado caso chova ou caia o teto, sem busca por sobreviventes. Afinal, a vida vale pelas escolhas tomadas. O resto é apenas destino. O resto é apenas o rio que passa. Sem pressa. Sem prazo. Sem dor. Por que haveria de doer?
Não acredito em amor que vista a máscara de ferro da impassividade. Justa e certa. Que empunhe a espada e saia gritando no campo de batalha criado por seus pés, gritando seja lá o que for. O amor amolece, é inglório, não ganha nada. E quando chega a hora de partir, parte. Sem olhar para trás. Parte para ser inteiro em outra parte.

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