Eu não entendo o amor, mas de nada adiantaria entender. O
que aprendo com um não serve para outro. E o que erro com esse não é erro com
aquele. Não, definitivamente, amor não é uma coisa para ser compreendida,
sabida, pensada. Pura emoção, ou sentimento, ou apenas um bocado de neurônios
emaranhados uns nos outros até chegar num lugar do cérebro que se reconheça:
sim, é amor. Imagine que é o cérebro dizendo isso. O coração, que sabe ele
sobre amor ou outra coisa qualquer?
Existe uma geografia do amor? Ao norte, extremo norte, a
oitava acima do amor mais conhecida por amizade. Ao sul, um sentimento de
insegurança e fragilidade chamado comumente de ciúme. A leste e oeste, os
braços, imprescindíveis, abertos, cruzados às costas do outro, ou ao longo, ao
largo, também atendendo pelo nome de abraço. Na cabeceira, o olhar desenvolto.
Uma palavra marcada no mapa: eu. Você está fora do mapa, fora do alcance.
Coordenada desprogramada e desmarcada.
Talvez a natureza do amor não seja espacial mas temporal.
Dura um tempo determinado pelo combustível. Esse combustível que, por natureza
própria, queima, vai se consumindo no trajeto. E depois, quando apenas sobre o
ar – se não chegou a sufocar – num vazio de significados, a intimidade vira
atrito. Um atrito sem fogo e sem paixão. A impaciência, o desânimo, a
estupidez. A lua de mel termina com o despertador todo dia de manhã.
Mas que amor é esse que não suporta a realidade? Que não
consegue conviver com as sombras e os escuros, inadvertidos pontos sem cor ou
sem luz, papel caído atrás da gaveta, poeira cósmica. Tem amor duro,
inquebrantável, sílex cortante, mais duro que o sorriso negado? Amor que lavra
o peito duro e escorraçado com arado afiado. E que espera com isso uma semente
mágica, salvadora. Que amor é esse que não transpõe a colina? Pois a tempestade
é mais bonita lá de cima.
Ou o amor é coisa para ser apenas luminoso e alegre, um
lugar para ser abandonado caso chova ou caia o teto, sem busca por
sobreviventes. Afinal, a vida vale pelas escolhas tomadas. O resto é apenas
destino. O resto é apenas o rio que passa. Sem pressa. Sem prazo. Sem dor. Por
que haveria de doer?
Não acredito em amor que vista a máscara de ferro da
impassividade. Justa e certa. Que empunhe a espada e saia gritando no campo de
batalha criado por seus pés, gritando seja lá o que for. O amor amolece, é
inglório, não ganha nada. E quando chega a hora de partir, parte. Sem olhar
para trás. Parte para ser inteiro em outra parte.
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