Queria um biscoito chinês desses que têm uma mensagem lá
dentro. Mas ia ser bem especial, ia dizer para mim o que eu tenho que fazer. Ia
dizer para eu virar à esquerda na próxima encruzilhada. Ia dizer para eu subir
em frente. Ou para virar a esquina. Ia dizer tudo que preciso saber. Ia me
adiantar quais os gestos que não poderia tomar, quais as palavras que não
poderia dizer, o tom, a intensidade. Enfim, ia agir por mim para eu nunca
errar.
Assim, eu nunca magoaria as pessoas. Eu não falaria o que
não devia. Eu não escolheria o rumo errado, nem ia deixar em dúvida o que não
poderia ficar em dúvida. Eu não deixaria passar oportunidades de ser feliz. Nem
ia deixar passar pessoas importantes. Eu não afastaria pessoas que não sabiam
que queriam se separar. Eu não aproximaria ninguém que não quisesse
antecipadamente. Eu não interferiria na vida de ninguém. Nada me afetaria com
dor. Nem a tristeza me esperaria na esquina, eu mudaria antes de calçada.
Eu evitaria os filmes com final dúbio ou triste ou dramático.
Eu não choraria de emoção a cada dia de haver chegado onde cheguei. De haver em
mim uma intensidade de fogo que destrói coisas belas. Pararia de brindar com
Machado que o melhor seria pecar por excesso, nunca por falta. Talvez a falta
fizesse melhor. A falta de resposta na hora errada. A falta de veemência quando
o melhor seria a amenidade.
Talvez eu conseguisse a leveza dos pássaros, dos biscoitos
chineses frágeis e quebradiços, e pudesse pairar sobre as desavenças humanas. Eu
pudesse entender um pouco o que move as pessoas, porque eu não sei. Definitivamente
eu não sei. Eu não sei se elas se assustam com a intensidade. Não sei se é
melhor nunca ser intenso, em nada. Ser vazio como uma brisa fraca. Ser morno
como um dia que acabou. Ser sem nenhum julgamento. Ser sem nenhuma crítica,
avalanche de críticas despencando na cabeça por tudo.
Tudo é muito para mim. Eu só queria um bilhete premiado, me
contando o que vai ser dito por uma pessoa antes, para que eu não me impacte
com nada. Eu queria apenas ser despovoada de nervos. Sentir como quem pensa. Pensar
como quem age. E copiar os grandes e bons. Ser uma cópia boa e simples, sem
erro. Sem drama. Sem teatro. Sem especulações. Talvez isso não me ajudasse a
aprender. Talvez isso não me faria crescer. Mas às vezes o cansaço é um empecilho,
faz querer o gabarito, faz querer que o tempo voe. Voe sem fim. Voe para longe.
Faz querer esquecer. E estou bem cansada.
Eu queria saber zerar o marcador. Começar de novo. Ter paciência
de começar de novo. Ter um tempo para não pensar em nada. Ficar livre para não
tirar nem a média. Mas estou cansada. Quase
cansada. Quase sem vontade de continuar. Quase. Por pouco não termino a frase. Por
pouco não acredito na palavra. Por muito pouco não encosto na parece e escorro
até o fim. Dramalhão. Perdido no horário nobre em dia de apagão. Qual a
direção? Eu só queria um biscoito mágico que me revelasse tudo que não sei das
expectativas, das promessas, das viagens que voltam repletas de lacunas. Uma
mensagem de ânimo. Mas ainda assim, haveria a chance de eu não seguir o
conselho. E fazer tudo errado, novamente.
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