quarta-feira, 13 de julho de 2011

Tenho cães no quintal e gatos em casa

Tenho cães no quintal e gatos em casa. Os cães não têm como sair, o quintal é grande, com grama, árvores, área coberta e água corrente, mas é completamente cercado. Os gatos ficam mais ou menos soltos. Saem e voltam quando querem. Um deles, que era de rua, sai para além do quintal e depois volta. Isso me preocupa, mas ao mesmo tempo não posso tirar dele essa liberdade. Quando fica em casa, trancado, porque chove, por exemplo, ele anda de um lado para o outro, nervoso, estressado. Terei o direito? Por uma preocupação que é minha? Não sei.

Outro dia, infelizmente, houve um desaparecimento de alguns cães de rua. Veneno. Foi muito triste. Alguns tinham donos que os deixavam sair, em liberdade. Nesse dia, não voltaram. Óbvio que quem colocou veneno para esses animais só vai encontrar o perdão de deus, porque é difícil aceitar uma coisa dessas. Eu nem sei o que faria se um desses fosse meu. Tenho uma dificuldade enorme em me conformar. Mas, estaria certo deixá-los soltos quando correm esse risco? E estaria certo também trancá-los em casa?

Quando se mora em apartamentos, não se tem esse tipo de dúvida. A vida é mais fácil quando não se tem escolhas. A liberdade é um aprendizado. O que você faria se ganhasse muito, mas muito dinheiro? Depois daquelas respostas fáceis e bobas tipo irresponsáveis, você se daria conta que o mais difícil é escolher, decidir. Bem, pode haver pessoas com mais facilidade em decidir. Ou talvez eu seja a única a ver desta maneira.

O que falo é sobre responsabilidade sobre mais alguém. Alguém que dependa de você por algum motivo. Saúde, cuidados, atenção. Bichos, crianças, idosos. Decidir por alguém porque o que quer que lhes aconteça afetará você. Olhar pelos olhos de outra pessoa, pensar pela cabeça de outro. E tentar ao máximo ser invisível. É claro, pois não estou me referindo a fantoches, bonecos manipuláveis, seres sem vida própria. Não é porque dependem de terceiros que deixaram de ter sua própria vida. Não é porque parecem não ter clareza sobre suas atitudes que posso excluir deles seu direito a liberdade.

Mas existe essa coisa? Liberdade para animais domésticos? Se são domésticos, é que foram domesticados. Nesse mundo que criamos não há lugar para outros seres terem sua própria liberdade, senão a que decidimos por eles. Você vai deixar uma vaca entrar no seu quintal e comer sua roupa? (alguém tente explicar para ela que não se deve comer roupa) Ou deixaria que um cão entrasse em sua casa e comesse o primeiro pedaço de pão que encontrasse? (coloque placas: não mexa). E crianças não ficam longe disso, é um longo processo até que sejam totalmente domesticadas...

No final, parece que o que se quer é um mundo perfeito. Ninguém erra, ninguém pode errar. Ninguém pode morrer. Ninguém pode mentir, esconder, articular, manipular. E, onde nada pode, tudo pode. O que vejo o tempo todo é um mundo do faz-de-conta às avessas. Homens e mulheres tentando ser o que não são. Querendo ter o que não têm. Falando do que não sabem, a terceira pessoa ausente. Liberdade. Quero uma definição que possa ser tão transparente que eu me veja nela. Eu, que abandonei o relógio quando mudei de vida, achando que soltava algemas, sei bem que ainda estou longe de encontrá-la. Aliás, a única coisa que sei é que vacas não comem roupas do varal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário