sexta-feira, 15 de julho de 2011

Eu gostava mesmo era de beijar você

Eu gostava mesmo era de beijar você. O resto, não lembro não. Não me lembro do que conversávamos nas horas intermináveis que faziam o tempo não existir. Não me lembro do que ríamos tanto. Mas tudo era muito divertido. O que tínhamos em comum? O que nos entretinha? Eu não sei mais. Foram assuntos que esqueci. Foram dias que não me deixaram marcas. Só dos beijos, dos beijos me lembro bem.

Eu gostava de receber flores, as flores que você me dava, não sei porque. E nunca apanhei nenhuma, deixava-as nas árvores, nos canteiros, onde estavam. Porque esse era um amor que se dava como as flores, fugazes, efêmeras, lindas. E de tanto se dar, ficou lá trás, no caminho que passa rápido, sem tempo de olhar de novo, sem lembrar onde ficou, gastou.

Do abraço forte eu também gostava. Apertava, às vezes doía, eu reclamava e era mais um motivo para rirmos sem fim. O pôr do sol, a lua cheia, a rota dos aviões nas estrelas que não reconhecíamos. Disso eu me lembro. Que nome eu daria para aquilo? Aquela brincadeira de adivinhar, de pensar com os olhos, de cantar com sorrisos, de pôr o mundo de cabeça para baixo, inverter as tramas, de não saber mais o que era e o que não era. De tanto não saber, acabei por esquecer.

Esqueci seu nome, esqueci os versos todos que eu fiz para cantar você. Esqueci nas paredes onde estavam os seus retratos, nenhum que eu tenha tirado, esqueci como era sua voz. Perdi o sinal de adeus e perdi a curva antes que se virasse. E onde antes havia seu olhar me olhando fixamente, agora tenho um espelho a me perguntar: quem? Quem era você e o que queria? Terei dado o que esperava ou terei deixado na espera?

Eu mesma não esperei. Qual seria o mundo das escolhas que não fizemos? Mais colorido? Mais aberto? Com que palavras se construiria? Você falando de amor nas promessas que não me fez. Eu sonhando quimeras de claras batidas em neve para um doce que não fiz. O vento assoprou até cair.

Hoje, cismando, não sei se foi bom ou não. Não sei o que passou, porque passou. Eu nem sabia que gostava desses romantismos todos, desses trejeitos, dessas histórias que ouvia de sua boca que me beijava. Mas disso, só disso é que me lembro. Você me beijava bem.

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