segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O amor é um sorriso


Gosto do sorriso que me faz no rosto o lembrar. Simples. Delicioso. Leve. É ato contínuo, como se fosse possível reviver o momento, o gesto. A verdade é que revivo na pele o que a memória me traz. Quando é ruim, faz um movimento no estômago, quase um soco. Quando é bom, faz um movimento no estômago, quase um frio, um arrepio. E quando é bom demais ainda vem acompanhado de sorriso. 

É bom passar pela vida assim, sorrindo o que se viveu com prazer. Porque viver é mais que isso, é mais que o prazer do contato, o prazer de experimentar junto. Mas não tem coisa melhor para lembrar. Aquele momento pequeno, que passaria despercebido de outra maneira, para outra pessoa, e que, no entanto, por voltar em forma de corpo, um sorriso na boca, o olhar divertido, marca mais que tatuagem. Fica mais que palavra escrita. 

É que a alegria faz o coração bater melhor, limpo, desenvolto. Faz o estômago trabalhar com bom humor. Os pulmões explodirem cheios de ar. A pele melhorar. O olhar brilhar. A alegria que pode vir de tantas formas, é ainda melhor quando vem acompanhada. Ela aquece sem precisar acender o fogão à lenha. Alimenta sem precisar cozinhar o pão. E enche de vida sem transbordar o copo. A alegria, ela mesma, ela que vem com o pulsar do sangue de haver alma no corpo, de haver emoção no toque de pele, essa alegria pode matar a fome, saciar a sede, acabar com a guerra, fazer nascer flores no peito de quem tem medo.

Eu queria poder derramar no copo de cada pessoa um pouco dessa alegria encantada de haver encantamento ainda no século vinte e um. De saber que haverá sempre encantamento possível para os que quiserem beber da confiança. Beber da certeza. E haverá certeza nos corações das pessoas? Deverá haver pelo menos uma certeza: o amor é uma realidade. Ele é o ar que esquenta com a aproximação dos corpos. Ele é a água que escorre de uma emoção pungente, de uma beleza estonteante, de um sentimento único, reconhecido.

Eu não sei o que é felicidade, um estado eterno de emoção em alta. Não sei o que é acordar todos os dias, todos os dias da vida vivida ou por viver, experimentando o que é felicidade. Não sei o que significa uma emoção perene, um sentimento inalterado, infinito, feliz. Não sei. Não sei o que é ter confiança na vida, minuto a minuto, instante por instante. Eu não sei não ficar triste ainda. Não sei ainda amar incondicionalmente. Mas sei o que é alegria fácil como a brisa do mar nos cabelos soltos. A alegria leve e descontraída de quem dormiu bem, metade a sonhar, e acordou para ver seu sonho de olhos abertos.

Nada dessa alegria romântica, exaltada, deslumbrada que idolatra o outro e lhe veste de tantas frases, de tantos gestos que, impossível se mover, faz sucumbir de cansaço. O amor romântico que prende os dedos de mão em mão, com laços de eternas promessas. Pesado demais para mim agora. Demasiado apertado para os meus braços agora. Eu quero a liberdade de ser alegre por viver, por lembrar a vida, por reviver cada minuto como um futuro a se realizar.

Posso ir dormir todos os dias da vida que virá só de lembrar a ternura, só de sorrir de novo pelo mesmo motivo, pela mesma emoção. E o que é isso senão amor? O amor que foi soprado dos lábios de deus direto para nossas narinas sedentas. O amor que é a alma do corpo, um corpo que aquece e revigora e se reconhece na fogueira que queima. O amor delicado e doce da poesia que o sangue escreve enquanto pulsa. Amor como chuva fina, silenciosa, mas que enfim molha, envolve, enternece. É dessa roupa que me visto agora. Uma seda sutil trançada de alegria. Não, não foi nenhum bicho que teceu essa seda, foi tecida do silêncio de um olhar que permanece. E me acompanha.

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