Toda forma de vida é impactante. Um entrelaçado de fios que
une e faz cruzar todos de várias maneiras. Então, o que parece sozinho está na
verdade apenas em silêncio. Não existe um sozinho, uma coisa só. Toda vida
impacta outra. Talvez por isso tanta gente ponha a culpa de seus descaminhos em
outras pessoas. É a intuição de que tudo está conectado de uma forma ou de
outra, e que, se não deu certo seu intento, é porque algo concorreu para isso. Na
sequência, ato contínuo, descompromete-se das consequências e não precisa fazer
nada para corrigir. Nada de desculpas. Nada de explicações. Nada. Graças ao
outro. Viva o outro, que me absolve!
Quando se mora sozinho, no entanto, não se tem essa
comodidade própria dos que moram conjuntos: o pôr a culpa em alguém. Pensa bem,
é um problema ter que assumir tudo de errado que acontece na sua vida. Assumir que
você é que não planejou, ou deixou de fazer, ou esqueceu. Nada como dividir a
bola quando não se sabe jogar. Ou estava distraído. Ou estava fazendo outra
coisa mais importante. Sim, quando tem alguém a mais na história é só
justificar no nível das prioridades. Agora,
quando não tem ninguém mais por ali, bem, assuma a responsabilidade. Deixe de
querer tirar o corpo fora. Comece a pensar o que esse erro significa na sua
vida. E mude. Ou não. Mas assuma.
Conheço pessoas que não erram nunca. Têm sempre um motivo
para o seu gesto, sua atitude. Tem sempre um porque externo. E por conhecê-las,
claro, fui responsável por muitos dos seus erros. Agora, se elas estão bem
assim, que posso fazer? Se me incomodo com isso, o problema é meu. Porque simplesmente
a vida é para ser vivida com alegria, apesar de. Não dá para ficar esperando a
perfeição, a hora azul, o momento brilhante de cada pessoa para entrar na vida
delas, ou sair. Não dá para ficar esperando a melhor onda para surfar só na
alta. O melhor é fazer de todos os momentos, seja na alta ou na baixa, a sua
temporada. Saber dizer sim e dizer não. Sorrir e chorar e entender.
Sou intuitiva em muitas coisas, mas tento entender tudo o
tempo todo. Isso me deixa mais lenta nas respostas, reflexiva, e a vida pede
espontaneidade. Pede leveza. Porque a eficiência sacrifica a espontaneidade, a
intuição. Se for levar tudo a ferro e fogo a vida acaba passando, levada pela
água ou jogada por terra.
Gosto de ficar olhando o fogo queimar a madeira como se
fosse fácil. Mas não é. Precisa haver uma combinação de fatores para que se
faça a chama. E depois, aquele calor bom que vem com a luz amarela enquanto a
lenha vai se tornando carvão, aos poucos. A transformação daquilo que era duro,
e nem sempre torto, em calor, luz e gás, incorruptível, sem significados
externos, simples, é como a vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário