Mas eu quero demais. Eu quero fazer sentido e quero ter
sentido. Com ter sentido quero dizer ao mesmo tempo o particípio do verbo
sentir e ter significados. Parece que meu DNA veio carente de significados. Hoje
eu os procuro em tudo que faço, em tudo que me envolvo. E me envolvo em tudo
que possa me trazer mais que explicações, mais que justificativas, um
entendimento sobre a vida. A minha vida e a vida ela mesma.
Agora, querer demais é um buscar a intensidade. Não é um demais abarrotado, cheio, tudo. Eu não
preciso ter tudo. Aliás, querer ter tudo é uma falta total de foco, porque não
dá para fazer quase nada com tudo. Só dá para ficar querendo, querendo,
querendo. Essa insatisfação eu não tenho. Mas todas as outras.
Eu quero estar com alguém estando. Um gerúndio quase sem
fim. Quero fazer fazendo. A permanência somente enquanto precisar estar. E depois
seguir em frente. Atitude e presença. Só assim eu entendo que posso fazer a
diferença. A vida não é um estacionamento para ficar ali acomodada. Nem é um
parque de diversões frenético para me dar fortes emoções a cada passo. Mas tem
que ser emocionante, tem que ter paz, tem que ser envolvente, tem que dar
liberdade.
Nem sempre eu pensei assim. Já quis estar na extremidade
vibrante o tempo todo. E quando a paz reinava solenemente, eu começava a
derrubar as paredes, a quebrar o teto, a trocar de lugar. Era como se não fosse
possível para mim, herói encantado das minhas histórias contadas, ficar
extasiada e contemplativa sentada na pedra filosofal da minha vida. Era como se
deixasse passar a vida, por si, como um rio que deságua no mar. E, sim, o que
conseguia com isso era a paralisia dos guerreiros depois da guerra, ganhada ou
perdida – toda guerra é perdida – voltando para casa.
Não, hoje não aceito mais a camuflagem do barulho. Espernear
e gritar e bater os braços até que a espuma me cubra por completo, ou me
encubra, e possa ficar despercebida, ilesa, protegida. Por que o medo? E medo
de quê? Eu nunca soube. Nunca soube que havia medo no meu impor-me à força de
gestos largos e transbordantes. Não havia me dado conta que era medo a minha falta
de medo. Que eu não podia sequer admitir o sentir abandonada, traída,
esquecida. Frágil. Mas, quem quer sentir tudo deve se preparar para tudo.
Difícil acordar como difícil é conciliar o sono. E as
mudanças profundas se deparam com os hábitos antigos. Meu nome projetado contra
o vento alçou voo. Em suspenso caminhar é estranho, mas mais leve também. Preciso
aprender novos passos, preciso aprender a dobrar os quadris, a flexionar os
joelhos, a rodar a cabeça sem ficar tonta. Tudo que aprendera antes parece
inócuo. E é assim mesmo. Quem precisa de algo que aprendeu está repetindo a
lição. Está aqui a raiz da nossa procura por emoções, talvez. O novo sempre
requer novas soluções. Que bom que é assim. Que demais!
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