Já estive nessa situação, de estar esperando um ônibus que não vem. Quando desistir e dar-me por certo que ele não virá? Esperei tanto, por que não esperar mais um pouco? Ou esperei demais, não dá para continuar. Desistir. Eu nunca soube. Ou parei muito antes e fui embora, impaciente, ou fiquei e fiquei e fiquei com a pedra no sapato por tanto tempo pensando que ia resolver, que ia melhorar. Faço parte daquela cultura que diz que é preciso persistir, que é preciso lutar pelos seus objetivos até conquistá-los. E que desistir é fracassar.
Mas nada é para sempre, e nem é tudo ou nada. A vida é dadivosa e generosa quando se sabe pedir e sabe receber. Há sempre uma segunda chance para os que sabem ver. E não é perder sair do time vencedor. Hoje entendo que viver é correr riscos, mas não é o risco de estar balançando o corpo em uma janela no décimo quinto andar de um prédio. É o risco de ir embora porque não vai mudar nada. É o risco de ficar e não perder nada. O risco de mover-se, agir, tomar decisões por si mesmo. Não por mais ninguém.
Nada é para sempre. E não existe a vida no fio da navalha. Não existem certos e errados. Não existe uma verdade absoluta. Viver é desiludir-se de todas as crenças arraigadas. É despir-se, despojar-se. Já deixei um bom emprego, salário e cargo para dar significado para minha vida. Não doeu nada. Era o que eu queria. Mas deixar o que eu queria por uma opção que não escolhi, é tão difícil. Difícil é aceitar a contrariedade. Aceitar o não que a vida dá. É o dedo de deus apontando para outra direção que eu não estou enxergando. É o rio descendo para um lado que eu não queria. Mas eu não posso mudar o rio. Quando, então, vou desistir de querer mudar o curso das coisas? Porque não é só desistir, é querer outra coisa. É direcionar a vontade para outro rumo. Ser feliz de outra maneira. Essa, talvez, a verdadeira criatividade. Ver o que não queria e torná-lo seu desejo.
Agora, coloque mais uma pessoa nessa história, acrescente a vontade de outro conjugando com o momento de sua vida que você precisa tomar uma decisão, e está feito o nó. Você quer ir, o outro quer ficar. Ou você tinha certeza que esse era o relacionamento da sua vida, o grande amor, o tudo, os melhores momentos, as maiores conquistas, tudo foi ao lado dessa pessoa. Você não pode ir por esse motivo? Você não pode acreditar que pode haver coisa melhor para sua vida? Você fica preso ao passado, preso ao que viveu e foi bom e não aceita ir atrás de outros momentos felizes? Não haverá novas portas para abrir? Novos portos para descer?
Se a vida é feita de momentos felizes, não existe um definitivo. Nada é único, nem ninguém. Não existe um par perfeito para mim. Deve existir uma infinidade de possibilidades me esperando bastando apenas que eu me vire, e siga em frente, sem olhar para trás, sem querer o que já não há mais. Eu não vou dizer que esqueci, mas não quero mais o que já foi.
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