sexta-feira, 11 de março de 2011

Quando se perde um grande amor

Quando se perde um grande amor tem-se sempre a chance de sofrer por três anos enquanto conhece outras pessoas ou pode apenas conhecer outras pessoas e se divertir. Mas por ora, uma falta de ar, um sentimento de aperto no peito, uma pressão. Uma vontade absurda de sair correndo e ao mesmo tempo de mergulhar num mar sem fundo e azul.

Mas o que estou dizendo? Um amor, se for verdadeiramente grande, não se perde, apenas sai de casa para crescer como um filho. Um verdadeiro amor parte para a vida, não morre, atravessa a margem do rio, mas continua correndo para o mar. Os amores findos são amores de verão, superficiais e divertidos como têm que ser amores rápidos. Só os grandes amores suportam as dores da convivência, as lágrimas do sentir falta, e os humores da manhã. Cristalinos, mas não vulneráveis e quebradiços. Transparentes, mas profundos.

Esses amores que se afetam como as chuvas que fazem lama e fazem escorregar, esses afetos que não sabem flexionar para passar sob os galhos sem se machucar, esses são apenas paixões necessárias como a água ou o ar, que passam.

Chove, e como sempre a chuva me remete para dentro de mim num mergulho de cabeça e queria que fosse só de coração. Esse coração que não escuto. Que está tão desalinhado do resto do corpo que não reconheço seus avisos, que fala uma linguagem que não entendo. Gestos que não traduzo.

Mesmo assim, e por isso mesmo, essa falta de ar, esse aperto no peito. Nada que já não tenha sentido. Nada novo, nada que me tenha feito morrer, ou quase. A falta. Mas a falta de que, meu deus? Se a vida me dá tudo que quero, me dá água doce e limpa e fresca que mata minha sede, me aplaca o calor, e me lava a alma. A vida me dá tudo que tenho, e o que já tive e que se foi por que era o tempo. E tudo tem seu tempo num mundo que gira e roda e retorna.

Talvez eu esteja apenas parada na mesma estação esperando um trem que já partiu ou que nunca vem. Talvez apenas um pouco de rebeldia tardia e nunca resolvida. Eu, que nunca me reconheci rebelde, apenas um pouco intransigente. Agora sei que teimo a dor em vez de insistir na alegria. Penso na alegria que senti num momento de paixão tão intensa que me avassalou, me fez em erupção, um vulcão que explodiu toda a lava represada e inconstante, em um único instante e agora jaze fumegante e obscuro. Preciso respirar. Preciso do ar frio e forte batendo no rosto, um pouco de frio no corpo, só para sentir os limites dos sentidos.

Aonde se encontra equilíbrio para comprar? Ou para colher? Ou para beber como um remédio que cura e embriaga um pouco, só para poder me livrar desse pensar ininterrupto. Equilíbrio que me salve. Equilíbrio para poder andar à beira sem cair. Para que eu possa caminhar de cabeça erguida sem tropeçar, sem temer, sem olhar para trás. Equilíbrio, apenas. Eu procurava um grande amor e encontro a necessidade de equilíbrio. Talvez seja isso, falta me curar para estar inteira para um verdadeiro amor. Assim, talvez, ele me reconheça e me capture já que nunca fui presa fácil. Ou talvez eu aprenda a me desprender e talvez isso seja viver um grande amor.

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