sábado, 26 de março de 2011

E o que é o simples?

Mas o que é afinal simplicidade? Talvez haja varias... talvez haja uma para cada cabeça. Existe a simplicidade de quem mora numa cidade grande, tem a de quem saiu e foi morar numa pequena cidade e tem aquela de quem sempre morou em cidade pequena, aliás, de quem não mora em cidade, mora no campo, na roça.

Imagina que a estrada de terra batida não é simples para quem sempre morou ali, é uma contingência. Quando chove muito ninguém passa, quando falta chuva é um pó só. Simples? Não, difícil. Agora, ter ovo fresco todo dia só indo ao quintal, isso é muito luxo para quem vive em cidades, e é tão simples para quem tem galinha. É difícil fazer queijo com o leite da vaca que pasta na porta? Talvez, para quem não tem nem idéia de como tira o leite da vaca.

Mas é certo que muito se perdeu da vida simples. Hoje tudo vem embalado, rotulado, telefone, email, site de quem produziu e não dá para reconhecer a pessoa por trás disso tudo. Eu gosto mesmo é do queijo do seu Tião Venâncio, da verdura do Tiana, da couve da Elza, dos ovos frescos da Maria Antonia. Você conhece essas marcas? Não tem código de barras, não tem selo de garantia, tem só a palavra de cada um de que tudo é feito com atenção, com carinho.

Eu gosto de vinho também. E ele tem que viajar muito para chegar aqui, na roça. Tomo vinho com berinjela tostada na beira do fogão á lenha, bem tostada e temperada com hortelã, limão e azeite extra virgem, acompanhada de pão integral. É simples? Talvez não. Mas é. Acendo o fogão à lenha para cozinhar mais lentamente, e para a comida ficar com um cheirinho de caseiro. Tem gente que faz isso porque não tem outra forma de cozinhar e talvez não ache tão divertido. A lenha está molhada, tem que recolher no mato, cortar para caber na rabeira do fogão, faz sujeira, faz fumaça.

Então começo a desenhar mais claramente o que para mim é simples. Simples é tudo aquilo que posso fazer e faz da minha vida mais divertida e interessante, que me reporta para sensações mais do que idéias, que me transporta para lugares, para experiências que de outra maneira teria que gastar mais, me esforçar mais ou ter mais tempo para viver. E que pode ser hoje, agora. De novo, se eu quiser. Ou nunca mais. Simples como uma escolha.

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