quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Sou a indisciplina

Sou a indisciplina. Repetir para mim, seja uma frase, a sobremesa ou o caminho, me mortifica. Não faço duas vezes a mesma coisa com o mesmo empenho ou determinação. Gosto do vário, do múltiplo, do incerto. Não, nada de andar sobre o fio esticado no precipício. Nada de riscos desnecessários. Mas a aventura de ver um perfil novo a cada pôr-do-sol, uma nova cor no arco-íris, uma outra linha da mão.

Porque o que fazer daquilo que é sabido? Melhor o que não sei, pois me surpreenderá um momento. Melhor o que não vejo, pois me ofuscará quando enfim me deparar. O mundo sob o mundo visível, sem sinais, sem trilhas ou bússolas, esse é o que quero viver. Aquele que já transformei em traçado, em gato manso deitado, em palavras que sei o significado, não, não me interessa.

O vento. O rio que corre. O mar que explode. Todo o movimento que transgride a si próprio e o tempo. Essas e outras coisas insuspeitas, que levam mais além, é o que procuro. Aceito o não, o talvez, aceito perder, esquecer, temer. Só não suporto teimar no mesmo lugar até que a noite venha e venha o sol depois. Não posso ser a mesma pessoa ao amanhecer todo novo dia.

Por enquanto, faço muitas pegadas indo e vindo incansável. Faço perguntas, faço caso de respostas inseguras. E balanço um pouco para os lados na espera impaciente que o silêncio demora. Mas um momento aprenderei a economia do movimento. Aprenderei a esperar sem me cansar. E a ir embora quando já for a hora. De ouvir dizer o vento em murmúrio, reconhecerei que não há nada além do que meus olhos veem ou meus sentidos experimentam. Antena pineal acesa.


Porque a vontade nada tem de excitante se não trouxer em si um risco. O risco de ser feliz, de andar no sobe e desce dos humores sem perder o seu próprio. Sem escorregar na beira, comer frio, perder o sono. A vontade que tira você de querer ter uma rede embaixo. E que faz gemer de prazer de lembrar o prazer. Sonhar é bom, mas é a procura da perfeição que a vida não é. Prefiro o tremor do fascínio e medo de não saber quando, de não ter certeza, de admitir querer. Administrar a frustração é melhor do que não ter tentado. Mesmo se for um erro. 

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