Não, eu não queria brigar. Eu queria continuar a acreditar que a pureza de coração podia existir entre os homens e mulheres, entre as pessoas que se cruzam o tempo todo nessa vida; que não era coisa exclusiva de anjos, ou que anjos pudessem estar vivendo entre nós. Eu queria continuar a acreditar que bastava minha palavra, meu olhar e minha mão estendida para garantir minhas intenções e que não precisaria de trazer testemunhas. Eu queria continuar pensando, mas pensando de verdade que podia acreditar simplesmente.
Quem eu sou hoje vem de quem fui antes. Mas quem fui antes, já passou. Desceu correnteza abaixo junto com muitos sonhos e ilusões do que seria ou gostaria de ser. Foi lavada de alma e corpo e sangue na água que purifica, o batismo de deus na terra, entre homens e mulheres e crianças.
A imagem mais linda que reúne minha crença nas pessoas é a da flor do lótus que nasce no lodo, no pântano. Nasce no que é sujo sem se contaminar, lindo e perfeito, imaculado. Se é possível a uma planta que não tem liberdade de escolha, deve ser assim também entre as pessoas que são livres. Livres para ser o pântano ou a flor, para ser o que é sujo ou para ser o que cresce apesar do sujo.
Não queria acordar desse sonho de que o amor pode ser fruto de confiança mútua, irrestrita e acima de todas as crenças. Não acredito que para amar seja preciso ética. Talvez amor seja a nova ética. A ética da confiança, a ética da beleza e reciprocidade. Uma atitude que pode mudar todas as outras, pode trazer novidades e mudanças tão repentinas e duradouras que nem o mar teria tanta força. Como a atração da lua nas marés, como a atração do olhar que magnetiza.
Onde está o amor que sinto? Quando falo alto e me descontrolo por não saber ouvir o que não queria ouvir? Quando as coisas não saem como gostaria e – mimada que devo ser – não aceito simplesmente, não aceito diferente? Mas é amor, eu bem sei. É amor o que me faz gravitar nessa atmosfera de incertezas, ora verdadeiro e forte como um farol no mar bravio, ora verdadeiro e fraco como as copas das árvores que se retorcem na passagem do vento bruto. Verdadeiro, ainda assim. Verdadeiro e sincero como a água cristalina do riacho revolto. Cristalino como a lágrima que escorre depois da dor.
Oi Fernanda, parece que o frio chegou por aí...
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