Acordo no meio de uma tarde especial e vou seguindo em frente. Vou vivendo, porque acho que o maior desafio da vida, ela mesma, é conseguir manter-se ereto e firme independente dos altos e baixos do entorno. Já vivi muito em gangorras sem sentido de sobe-e-desce como se fosse minha a falta de rumo. Como se fosse eu que descesse vertiginosamente a onda que quebra, sem me segurar no turbilhão.
As ondas são para surfar. Não para nos mandar para o fundo. Nada na vida foi feito para nos levar para o fundo. A tristeza só é boa para a indústria farmacêutica, agora eu sei bem disso. A vida é uma seqüência de infinidade de fotos que podem ser lindas ou não. Que podem nos mostrar em momentos alegres ou não. Mas não dá para ficar subindo e descendo sem leme, ora bem ora não, num instante o mais feliz do mundo, no outro o pior entre os piores. A inconstância do ritmo não pode me levar a dançar feio. A paz é uma descoberta interior que não pode ser adulterada pela ignorância externa.
É claro que sofro a dor que não é minha. Sofro principalmente a dor dos que me são caros. A dor real e cortante das perdas anunciadas ou não. Daqueles que são tão próximos que chegam a ser minha carne. A dor alheia é uma dor que comove e faz viver aquilo que de outra forma teria que ser multiplicada na teia da vida para que todos passassem pelas mesmas dores. Mas isso não é escola, é vida. Na escola todo o conteúdo da sala de aula deve ser transmitido a cada um presente, independente de sua vontade em aprender. Mas a vida não. Quem quer aprender vive a dor e a delícia de ser alguém que importa ao mundo, sendo sua ou não essa dor e delícia.
As dores e delícias de viver não podem nos pôr nessa gangorra sem sentido de subir ou de descer. As certezas e os saberes que se vão somando de haver sangue correndo nas veias, de haver luz brilhando nos olhos, de estar aberto às experiências que se apresentam, esse verdadeiro saber que inclui o haver amor no coração – nada vale a pena se não houver amor no coração – trazem paz de espírito, a paz de deus que não se muda nunca, que é constante, vibrante de calma, a calma alegre e reconfortante que faz da vida algo maior. Simplesmente porque deus não brinca de nos colocar em infernos cotidianos só para ver como nos saímos. Aliás, ele não nos coloca de maneira alguma em inferno algum.
A paz é como a nuvem que passa, o céu azul da tarde que vai se transformando em rosa, amarelo, dourado, púrpura, até finalmente se transportar em negro, um negro que engole toda luz. O céu não está indiferente à minha dor pessoal, mas olha para ela seguindo seu rumo inquestionável de amanhecer e voltar a ser azul. Ou cinza se chover, ou se não houver sol, independente da minha alegria ou tristeza. Esse ritmo inquebrantável é um farol. Dá a direção a seguir. É deus presente na vida de todos e na minha em particular, na sua em especial, na dele se ele quiser ou se não quiser. Quando quiser, no entanto, estará lá o farol iluminando o caminho. E tudo poderá voltar a ser bom, porque não deixou de ser. E tudo poderá voltar a ser calmo, porque sempre será.
"Tudo poderá voltar a ser bom , porque não deixou de ser. E tudo poderá a ser calmo , porque sempre será."Obrigado por nos presentear com a sua palavras que traduzem as nossas dores e amores. Ainda mais sucesso. Bjs. Rubi
ResponderExcluirobrigada, Rubi, pelo seu comentário. Fico feliz de poder, falando das minhas dores e amores, tocar a sensibilidade de outras pessoas.
ResponderExcluirsaudade,
fernanda