sábado, 23 de janeiro de 2010

Amanhã não vou te querer

Amanhã não vou te querer. Eu te quero hoje. Hoje à noite não vou te querer. Eu te quero agora. Nesse instante que passa líquido deslizando por mim, quero tua pele macia recostada e quente na minha pele que te quer agora. O mundo que pode ser amanhã, logo mais, não importa.

Meu amor se esparrama pela cama numa procura calma e tranqüila do teu corpo que me espera enrodilhado de preguiça. Eis o que quero agora. Nada mais. A eternidade de um amor romântico ou o prazer inteiro de um instante? Meus instantes nos teus olhos não passam, não passam como se o passado deixasse de existir, como se o futuro deixasse de existir. O tempo do meu amor por você é esse tempo presente em que olho teu sorriso, mordo teu olhar criança, aperto tua mão na minha forte, forte e tão forte que te machuco. Então, a vida flui pelas minhas veias bombeada por um coração recompensado.

Agora tenho um coração amassado pelo seu peso que é leve e perfumado, que bate ritmado só para ver você dançar bonito e só para alegrar o dia que nasce. Todo dia nasce um novo dia. Todo dia milhões de células do meu corpo se despegam e se vão na água do chuveiro, na água que engulo porque minha garganta está seca, e vou me mudando aos poucos, renovando como o dia a promessa de ser outra, quem sabe melhor, quem sabe mais leve, mas outra. Quem sou agora te ama como nunca.

A manhã já abriu sol, já fechou, já prometeu azul, agora cinza, já correu alegre na corredeira do rio, já se turvou no vento pelas folhas das árvores. Tudo em contínua mudança me faz nascerem flores no peito. Flores como as que te dou e recebo, perfumadas, amarelas, azuis, brancas, com abelhas, lambidas pelo beija-flor talvez, sem abelhas, movidas pela vida que flui em torno. Ao som dos pássaros que toda manhã, renovada mesmo assim, vêm cantar na minha janela, acompanho o amanhecer calmo.

Essa calma de agora reflete o tom do meu desejo. Sei que ele é teu e não me pertence. Sei que novos amanheceres sobrevirão a esse, com chuva ou sem, com vento ou sem, e esse vai e vem suave me reconforta e diz que posso confiar no para sempre. Sempre acaba o para sempre. Como acaba o reinado do néctar na flor antes de virar mel. O doce se sobrepõe ao doce. Outro doce, sem tempo porque o tempo que começa e termina é o tempo contado para fora. Não é o tempo que fica nas retinas, na pele dos dedos, na ponta da língua.

Para o amanhecer que já vai longe, abro meus braços e espero o abraço certo. Abro meu peito para o encontro dos corações que se amam. Abro um sorriso também. Agora que te amo, sei que nasci de novo. E sei que acertei o passo com vida.

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