terça-feira, 15 de outubro de 2013

Acredito no olhar



Eu acredito mais no gesto do que na palavra. Mas acredito mais no olhar do que no gesto. É uma necessidade mais que uma escolha.  Ainda assim, o que de fato tenho escolhido para minha vida? Um lugar para morar, pessoas para conviver, amores emocionados e emocionantes. Quanta água desce no rio apenas porque há desnível. Quanta mosca se batendo na janela acreditando que encontrou a saída. Aceitar. A vida dá ou sou eu a encontrar? Atrás daquela montanha, numa clareira perfumada escondida no meio da mata, tem ouro. E tantas promessas. Só é preciso superar a montanha. Só isso.

No entanto, do alto de minha vida bem vivida não tinha sentido nada assim antes. Grandes dramas, grandes amores, grandes sonhos irrealizados e tantas realizações mal sonhadas. Desilusões do tamanho das expectativas. Felicidades instantâneas, inenarráveis, inesquecíveis. Nada semelhante ao sorriso alquímico capaz de transformar pedra cartesiana em maçã doce e suculenta. De transformar em joia um coração brilhante. E continuar a ser apenas um sorriso.

Dos significados da vida, apenas os enigmáticos, os emblemáticos e os problemáticos me importam. Sim, porque as respostas me apaixonam e passam. Enlevam como a maré. E depois voltam à praia, quebrando. A mim importam os desafios dos olhares que se cruzam e se perdem. Os bilhetes perdidos ao espetáculo imperdível. O momento de glória exatamente quando rompe o cordão no peito numa corrida silenciosa entre emoções conflitantes.
Tal qual a chegada da chuva depois da estação seca, anseio pelo momento em que, no cansaço da trilha tortuosa, possa descansar o olhar, não no sol poente vermelho atrás das copas das árvores, não na calma da lua crescente em meio aos prédios, nem sequer no mar lancinante e distante, preciso, sim, encontrar um olhar sereno tão somente. Embora o medo.

Tenho medo da plenitude. De chegar ao fim da estrada. De atingir o topo da montanha. O superlativo me dá medo. O absoluto. O fio da navalha. Os cortes precisos me fazem estremecer. E o risco no escuro. O olho no olho. A morte me dá medo por ser o absoluto da vida. A certeza me assusta, me faz dor de estômago no meio da noite. A crueza polida da certeza improvável. Num gesto, passo correndo a mão na vidraça baça do meu pensamento e desfaço os significados ainda baforados pelo tempo.

Aonde quero chegar? Nem sei se tenho destino. Nem sei se estou numa corrida que tem pista para ser seguida, linha de chegada e prêmio no final. Alguém me contratou para andar em trilhos? Não sou uma locomotiva a puxar vagões, mais pareço um motor de popa definindo a direção ao contrário. Nas tardes sem chuva e azuis, ouço música que o vento traz e leva, um sussurro impalpável apenas adivinhado.  No mais, só a vida correndo pelas veias porque nada em mim se dispõe a correr de novo. De novo, o vento que nunca volta. (um canto de pássaro que passa voando atrai meu olhar para o infinito que há em tudo).

Um comentário: