Um dia você acorda e vê que cresceu. Assim mesmo, se dá
conta do feito. Quantas coisas você faz por decisão sua? Não quero dizer por
escolha dentre as alternativas que a vida apresenta. Mas que você realmente foi
atrás e conquistou. Seja um novo trabalho, seja um novo lugar. Um caminho novo,
uma saída sem necessidade. Tudo caminhava bem e, então, você resolveu mexer no
time que estava ganhando. Você saiu da sua zona de conforto. Você tentou,
arriscou, investiu em algo inesperado, contra o senso comum, apenas porque
entendeu que seria melhor, ou ainda, não entendeu, mas sentiu.
Trata-se de um salto, não um degrau. Como se, de repente,
aquilo que nunca você tinha querido antes, fosse tudo de que precisava agora. Diferente
de subir uma ladeira, uma escada, diferente do passo-a-passo paulatino das
rotinas. Dá um medo e um fascínio. Uma alegria imensamente nova. Uma energia. Agora,
você pode dobrar uma barra de ferro no peito, pode quebrar uma tábua com os
dedos. Mais que isso, você pode fazer o seu destino. A sensação é real como se
tivesse acontecido. Falta o ar e podem descer lágrimas. A boca seca.
Quantos anos você tem? Não importa. Você simplesmente
acordou. E as respostas que você dava ao mundo parecem brincadeira de criança,
distantes. Já não importa mais muita coisa que importava. E o que importa
parece tão mais simples.
Não é assim nada excepcional. Tem pessoas que crescem rápido
por necessidade, obrigadas pela vida. Obrigadas por um destino que lhe bateu na
porta até derrubar. Elas têm consciência do esforço desprendido para chegar a
cruzar a fronteira entre o conforto e o necessário. É duro. E muito pessoal. Quem
pode dizer quem mais sofreu numa separação? Numa falta de um pai ou mãe? Quem pode
saber realmente o que passou aquele que viveu desastres, catástrofes, flagelos,
abusos? No melhor dos casos, você pode compreender, ser empático, pode dar a
mão. E dormir depois porque a vida continua.
Você está bem. Não teme por seu sustento, não lhe falta o
imprescindível, está cercado pelos que lhe querem bem. E ainda assim, resolve
assumir o leme do seu barquinho. De verdade. Sem estar apenas respondendo aos
desafios que se impõem. Olha para o mar imenso e infinito que se abre à sua
frente e olha para o porto onde está ancorado. Tantos barcos já se quebraram
ainda amarrados ao porto apenas se chocando com outros em dias de mar arredio. Não
há porto seguro de fato. Seu barco, que foi feito para navegar, começa a sofrer
com a maresia. E, num repente, além do horizonte igual, você consegue entrever
uma possibilidade. Você chega a ver uma ilha, uma ponta de uma montanha, uma
direção se desenha aos seus olhos sonhadores. Antes que você pense melhor, seus
braços começam a desamarrar os nós, suas pernas iniciam sua jornada. Quem levanta
assim sua âncora e se lança na aventura de viver, não chega no outro lado do
mar. Chega outro.
Outro olhar, outro sabor. Outra pessoa na mesma e velha
conhecida. Chega renovado pelo esforço – porque pensar renova as células do
corpo. E sonhar renova a mente e o corpo. Você é absolutamente outro. Mal tem
tempo de sentir-se regozijado com a conquista, mal compreende o que se passou, já
está diante de uma nova rotina. E antes do primeiro passo na nova terra, se dá
conta de suas pegadas na areia. Novas. Então, lança um último olhar para o
continente de onde saiu, mede a distância, se incorpora da proeza. Conseguirá transcender
seu senso de identidade que ficou para trás, no cais? Conseguirá aceitar que os
próximos, principalmente os muito próximos, continuem esperando de você o mesmo
que já foi um dia, só porque é mais confortável para eles também? Se sim,
parabéns! Você cresceu.
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