Eu não concordo com a proposição de que tudo que é bom é
difícil. Muito capricorniano para alguém de fogo. Mas cada vez mais acredito
que tudo que seja realmente importante custa caro, e na mesma proporção. Sim. A
vida pede sangue, acontece no sangue, se nutre de sangue. Dói e se arrepia,
emociona e faz rir, fascina e faz medo: neurônios existem para sentir.
O que é de graça só faz passar. Quanto do que você ganhou
era o que procurava? Ou ainda, quanto do que ganhou você se lembra agora?
Assim, não estava querendo, não estava procurando e ganhou. Se esqueceu, não
era assim tão importante. O que importa é algo que grava na pele, como
tatuagem. O que importa fica na retina, você vê de olhos fechados. O que
importa custa caro. E você paga.
Agora, tem aqueles que naturalmente não pagam. E ficam muito
irritados de não conseguirem. E se revoltam, viram a cara, não dormem. Sendo importante,
pague o preço. Você pode imaginar alguém barganhando o amor de outro? Aliás,
tem quem considere o amor uma conquista e ainda quer paz na relação!
Tudo que é muito importante tem um risco. Vale mais quanto
maior o risco. Quando você quer uma coisa, muito, corre o risco de se frustrar
e, claro, também há sempre o risco de ser feliz. É o que é a vida. Beleza e
feiura, mas em intensidade suficiente para fazer a diferença. Porque a mornidão
da vida que passa, escorrendo como água de bacia, é a falta de memória no fim
da vida. É a falta de lembrança. É o esquecimento.
Bem, você pode argumentar que tem coisa que promete, mas não
cumpre. Parece que vai ser bom, e não é. Vai ser um sonho, e é um pesadelo. E
eu concordo com isso. Na verdade, olhe com calma. A coisa parecia ser boa ou
você é que queria que fosse? Era o amor de sua vida ou você se fez crer nisso?
Todos os sinais mostravam o contrário, todas as pessoas já tinham sacado o
dissenso, mas você insistiu. Remar contra a maré parece ser um bom exercício
físico, molda o caráter, fortifica a vontade. Mas não leva à felicidade.
Felicidade é um atingimento. Para chegar, você precisou
partir, precisou definir objetivos, precisou dizer o que queria, precisou saber
o que estava fazendo. Felicidade é extenuante a certos momentos de visão. Por
isso alguns desistem. Ou fingem que estão tentando. Correm na esteira
desregulada de sua imaginação, contando mentiras e guardando ressentimentos.
Não é fácil ser feliz. Exige comprometimento, empenho. E é isso que chamo pagar
a conta. Chegue no balcão, no belo e estonteante balcão da vida, peça o que
quiser, pergunte quanto é, enfie a mão no bolso, pague e leve. Por que não
haveria de pagar?
Eu também queria ganhar tudo. Tudo a ponto de não precisar
nem declarar o meu desejo, de não descobrir que desejo. O tudo que faria uma
pessoa feliz. Só tem um problema: aquilo que me faz feliz não precisa ser o que
faz você feliz. Por isso, posso estar ganhando tudo o que não queria. Se eu
disser que o que queria era você, posso receber em resposta que você não é um prêmio
para ser ganho. E meu amor por você pode ser apenas uma coincidência.
Gosto do dar-se de graça da flor. Bela e exposta, dada já
por natureza, com perfume de jasmim ou a beleza da orquídea, com a bravura da
rosa ou a doçura da violeta. Um amor assim era fácil, era só ficar olhando,
olhando, sem nunca querer levar no peito, para que não o queimasse com o calor
da pele, não lhe sufocasse com a pressão do abraço. Então, algumas vezes, até o
que custa caro e é pago, não dá para levar.
Ainda assim, correndo o risco de não levar, continuo
acreditando no amor. E mais: hoje eu quero o amor que tem coragem de dizer sim.
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