Tenho que confessar que estou com medo. Medo de desconstruir meus conceitos de relacionamento a dois. De ter que mudar o que pensava e penso sobre o que é amor e amar. De questionar todas essas crenças já completamente à vontade na minha mente. Porque estou com medo de admitir que construí um mundo seguro sobre bases sólidas amparadas numa emoção chamada de amor incondicional e agora preciso reconhecer que tudo isso não era senão uma tentativa desesperada de me manter no controle. No controle das minhas emoções, da minha vida e das pessoas que me cercavam e bem me queriam.
É difícil admitir isso assim. Que embora declarasse um amor maior que tudo, o que mais queria era ser amada. Ser amada em tudo que eu fizesse por alguém. Ser reconhecida em cada gesto e cada palavra a cada momento. Mas, pior, estou com medo de um amor livre. De ser livre na expressão desse amor. De poder ir sem hora, mas também de deixar ir, de ficar sem, de me sentir só.
É simplificar demais a vida querer viver sob as próprias crenças, agora sei. É tudo muito mais fácil não dar um passo fora do esperado. Do que espero de mim, do que esperam. E por mais que seja segura de não me importar com o que os outros pensam de mim, tudo que penso sobre relacionamento inclui viver em comum, viver com, há sempre um “outro alguém”.
O que faço agora dessa súbita autonomia que me surge? O que penso de amor que não está presente? De amar alguém e deixá-lo. Deixá-lo ir, deixá-lo livre de meus cuidados, de minha atenção, de minha proteção, deixá-lo, enfim, solto por si. Que farei com minha súbita liberdade de não ter regras para viver com? De repente, ficou difícil aceitar que alguém que me ama não está me esperando para o café, ou para apagar a luz. Ganhei uma liberdade pela qual não conspirei, não lutei, ganhei e não tinha pedido.
No entanto, apesar de todo desconforto de ter perdido rotinas que engendrei e me enredaram, rotinas que me forneciam referenciais de quem sou, de quem tu és, o que se descortina pela janela repentinamente aberta é uma brisa leve e fresca, uma paisagem florida e descompromissada, descomplicada. É o medo do vôo ou da altura, o medo de perder o chão ou de ir ao chão, não sei, medo do amor que liberta, que desprende, que é luz, que é senão o fim de todo medo!
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