Não é fácil pensar. Sobretudo, não é fácil pensar focado. Metas. Aprendi que muito do meu desejo se perdeu por aí, entre travesseiros mal dormidos, ou na desordem do dia. Muito dele se derramou inútil. Não sei nem dizer o que queria e o que não fiz do que queria. Não escrevi. Não me comprometi. Não empenhei nenhum risco em nenhum momento. Taí. Que sucesso pode vir de uma tal empreita?
Somente o sucesso de descer a ladeira. De ser visto de dia. De ganhar de graça sem merecer. Até a flor que se dá em perfume e beleza tem um propósito. Na natureza tudo tem uma estratégia. A inteligência está perfeita e reconhecível em cada seixo que rola solto na corredeira. Qual o meu propósito? Qual a minha meta? Para onde vou?
Caminhar a esmo é fácil também. É fácil seguir seguindo, deixando a vida me levar. Não tem escolhas importantes que me tirem o sono porque têm sentido, porque são impactantes, porque são únicas. Uma escolha é única porque não tem volta. A cada virada que dou no caminho é um passo para um lado, é um tempo que não volta.
Sonhar é preciso. E se tiver clareza, nitidez e ainda por cima for escrito, então é um sonho realizável. É um sonho com data marcada. Bem sei. Olho para frente e para cima. O que vejo? Minha vida lá na frente linda! Onde estou sentada? Com quem estou falando? Estou ali num futuro visível, palpável. O que quero para minha vida? Lá está: sentada e feliz na beira de um rio de corredeira que é o rio que passa pela minha aldeia. São dez anos e é como se fosse agora. Real. Estou tranqüila porque a vida está em ordem. E lá, nesse futuro sorridente, sentada, olho para frente e me vejo. Estou me vendo num futuro mais que perfeito. Andando na minha terra entre as árvores que plantei.
Devolvo para a terra o que a terra me deu. Muitas plantas, o perfume das especiarias entrelaça-se no vento. Ando entre elas e gravo seu aroma. Devolvo para a gente o que a gente me deu. Dou o que sei em troca de ver crescer um futuro no olhar de quem me vê e se vê num longe real e palpável. Acreditar é ver nascer a fruta no pé que foi cuidado. Empenhar-se é acreditar não no acaso, na sorte ou azar. Mas na força que seu braço tem, na destreza que seu olhar tem, e na precisão de um pensamento cristalino.
Vou dizer que o que quero para minha vida é um sentido. Não há sentido em trabalhar sem ver nascer o fruto. Não há sentido em haver frutos se não puderem ser colhidos. Não há sentido na mordida na fruta que não seja doce. Porque o doce é a razão da fruta. Como a alegria é a razão da vida. Não digo mais que as coisas estão difíceis. Sou eu que não me empenhei ainda em desvelar sua ordem, sou eu que não me esforcei em desfazer seu nó, sou eu que não enxerguei a luz por trás das pálpebras fechadas. O que quero, o que quero, o que quero. Estou fazendo silêncio e atenta para ouvir o que bate meu coração para que eu escreva na pedra para não esquecer até chegar lá. E depois que chegar lá, não esquecerei também de me brindar. Porque eu sou a razão do meu sucesso.
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