Estar
só é uma realidade ao mesmo tempo libertadora e assustadora. Porque, se de um
lado você não deve satisfação a ninguém, por outro não é tão ruim assim ter
alguém que cuide de você, ou que você tenha que cuidar. A liberdade mesma é
assustadora. Agora você pode fazer o que quiser: e o que quero mesmo?
A
mim parece que a vida toda é um misto de dores e alegrias que se sucedem ou se
permeiam, se confundem. Às vezes me emociono em dizer “eu te amo” como se
aquilo fosse uma avalanche descendo como lágrimas dos olhos. Às vezes um adeus
é repleto de silêncio e ar seco, não ecoa, não reverbera, não incide. Mas pensa
bem: o problema é do ralador ou do queijo? O queijo se esfola todo, mas não dá
para culpar o ralador, afinal, ele é um ralador.
Sempre
pensei na dor como algo entre lutadores, alguém que acerta outro no seu
descuido. Isso é muito fácil quando parece que é o outro o responsável pelas
dores que surgem. Agora, viva sozinho e me explique quem foi que deixou acabar
o gás, o café ou a pasta de dente. Quem deixou a luz acesa, ou esqueceu de dar
a descarga. Esse é outro aspecto do “viver só” que assusta: não tem mais
ninguém para pôr a culpa.
Então,
aprender a viver só é um grande passo para saber conviver com outras pessoas. Porque
se você estiver esperando que vai poder deixar de fazer as coisas que tinha que
fazer por falta de mais alguém, então encare: convivência para você é
conveniência. Fala sério.
Ter
um sócio, na vida ou nos negócios, não é largar tudo na mão do outro, porque
isso é um peso, não é sociedade. Sociedade deve ser um movimento em que todos
ganhem, não apenas um, detentor do poder de decisão ou da estabilidade. É muito
cômodo colocar sua vida nas costas de outra pessoa e se isentar de tudo que der
errado. Porque errar é inerente a quem age, mas quem não faz nada não está imune.
Às vezes o erro esteve no ficar calado, omisso.
É
muito difícil encarar os próprios erros, mas mais difícil é se perdoar. Eu sei.
Por isso a dor. Dói muito admitir, e não é por orgulho, só, é que recebemos uma
educação tão moralizadora que parece um pecado capital errar. Parece que só nos
restará o inferno, que devemos pagar pelos erros, aquela coisa toda dramática e
fatalista.
E
afinal, o que é acertar? É o sucesso? Mas sucesso é tudo, todo o resultado atingido
é um sucesso. Não ganhar em primeiro lugar é fracasso? Bem, a mim parece que inventamos
um sistema de tortura e estresse quando colocamos elementos da vida em disputa.
Porque a vida é uma história com fim previsto e certo. Morrer é certo. Certíssimo.
E tem tantos caminhos possíveis para chegar lá que as escolhas confundem um
indivíduo, imagine se ele está indo acompanhado e ambos tenham que decidir
juntos o traçado.
Definitivamente,
para mim, o pior de um relacionamento é quando existe um medo – explícito ou implícito
– de errar. E fica aquele jogo de empurra-empurra, deixa-que-eu-deixo, e tudo
mais. Talvez por isso o amor de amigo não seja problemático: na relação de
amizade existe a cumplicidade, mas não a sensação de que, se o outro errar, vai
levar você junto. Você não quer ver seu amigo mal e, ainda assim, aceita nele o
direito de fazer o que quiser, e de que, muitas das vezes, ele vai bater com a
cara no muro. Você reconhece a individualidade dele. No amor afetivo é muito
fácil ultrapassar esses limites e se entender como uma unidade. De almas gêmeas
a irmãos siameses. E a dor.
Uma
coisa eu aprendi: a dor é um erro. E se estiver doendo muito, tenho que mudar, se
quiser que pare de doer. Essa é uma decisão minha e de mais ninguém. Não é o
carro que está indo na minha frente que tem que aumentar a velocidade, sou eu
que tenho que acelerar e sair de trás – se tiver motor. Se não tiver, não adiantará
brigar.
Sim.
Estar só não é uma solução, é apenas um passo. Nunca vou desistir de me
relacionar com alguém, e eu ia dizer com alguém em especial, mas no final,
todas as pessoas que você escolhe para se relacionar são especiais (exceto para
os cínicos). Porque, sendo a vida boa na essência, quero compartilhar isso com
outra pessoa.
Muito bem pensado!!!
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