quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

A Nova Revolução

A nova revolução – a próxima – é feminina, não tenho dúvidas. Uma revolução sem sangue, sem guerras, sem certo ou errado, porque dessas já estamos fartos. Estamos fartos da racionalidade fria e crítica, insensível, que deixa passar fome, que deixa morrer à míngua países inteiros, culturas, artes, junto com as pessoas que fazem tudo isso existir. Não precisamos mais de heróis que chegam destruindo tudo em nome de um bem maior – deles – sem procurar entender o que é melhor ali, naquele momento. Não queremos mais vencedores em detrimento de qualquer um, de qualquer coisa, de qualquer jeito.

A nova revolução será feminina, certeza, pois esse modelo masculino de construir derrubando florestas, de criar uma civilização escravizando, violentando, sobrepondo-se a outros povos, conquistando, aculturando tudo que é diferente, esse modo de separar o mundo seja pelo critério que for, essa atitude tentou fazer um mundo melhor, mas agora começou a destruir o que construiu.

A revolução será feminina porque a mulher esteve o tempo todo, seja ao lado do herói, seja ao lado dos dominados, vencidos, massacrados, esteve o tempo todo subjugada, inferiorizada, destituída de voz. Foi bruxa, queimada em praça pública, foi megera, histérica, puta, foi culpada pela fraqueza humana, da carne e da mente, foi objeto, usada, violentada, cuspida. E sobreviveu. Ela foi obrigada a despir-se do seu saber natural para abraçar, incorporar e valorizar referências externas, como um povo cuja aldeia foi encampada por um império. Dominada. Discriminada. Forçada a fazer papel duplo, ganhando menos.

O ocidente se gaba de ser um mundo civilizado, moderno, mas até ontem a mulher não podia andar sozinha nas ruas, não sabia ler (ou não podia saber), não votava, não trabalhava por conta própria. Até outro dia, ela não podia trabalhar fora, e se isso foi possível, o foi como a libertação dos escravos: uma necessidade capitalista. Não teve qualquer juízo de valor. Quantas pessoas, ocidentais ou não, olham para uma mulher grávida e pensam realmente que essa pessoa está sacrificando sua vida pessoal, sua autonomia, sua individualidade e sua liberdade, em prol de uma outra vida? Quem, senão uma outra mulher, efetivamente sabe o que isso significa? E mesmo essa mulher, o quanto ela reconhece a importância de seu papel único na vida? Numa atitude empática, acima de todas as críticas, muito além do certo e do errado, do bem e do mal, a mulher que gera um filho está preparada para fazer uma revolução boa para todo mundo.

A revolução será feminina porque essa esteve nos porões dos navios, das casas; permaneceu calada ouvindo; foi posta de lado e isso pode ser seu camarote, muitas vezes. Porque esses valores não foram suplantados com a dominação. O feminino subjacente continua intuitivo, abrangente, sensível. Continua inclusivo, criativo.

Essa nova revolução será feminina porque o feminino está deixando de ser uma questão de gênero, está implodindo o sistema com a criação de novos gêneros, criando o caos necessário para a mudança de perspectiva. É muito claro que essa ameaça já está sendo sentida, só pela força da reatividade geral, numa manobra desesperada dos setores mais conservadores em assumir o poder. E porque nunca quem está no poder faz uma revolução.

A revolução feminina não se faz através de bombas, ataques surpresa, limpeza étnica. Mas no interior das casas, dentro de suas famílias – novas famílias -, olhando com suavidade e doçura para as diferenças, para as fraquezas, porque o feminino não é uma sardinha querendo se tornar tubarão. Ao contrário, ela é uma flor querendo mostrar sua beleza.




Nenhum comentário:

Postar um comentário