A nova
revolução – a próxima – é feminina, não tenho dúvidas. Uma revolução sem
sangue, sem guerras, sem certo ou errado, porque dessas já estamos fartos. Estamos
fartos da racionalidade fria e crítica, insensível, que deixa passar fome, que
deixa morrer à míngua países inteiros, culturas, artes, junto com as pessoas
que fazem tudo isso existir. Não precisamos mais de heróis que chegam
destruindo tudo em nome de um bem maior – deles – sem procurar entender o que é
melhor ali, naquele momento. Não queremos mais vencedores em detrimento de
qualquer um, de qualquer coisa, de qualquer jeito.
A nova
revolução será feminina, certeza, pois esse modelo masculino de construir
derrubando florestas, de criar uma civilização escravizando, violentando,
sobrepondo-se a outros povos, conquistando, aculturando tudo que é diferente,
esse modo de separar o mundo seja pelo critério que for, essa atitude tentou
fazer um mundo melhor, mas agora começou a destruir o que construiu.
A revolução
será feminina porque a mulher esteve o tempo todo, seja ao lado do herói, seja
ao lado dos dominados, vencidos, massacrados, esteve o tempo todo subjugada,
inferiorizada, destituída de voz. Foi bruxa, queimada em praça pública, foi
megera, histérica, puta, foi culpada pela fraqueza humana, da carne e da mente,
foi objeto, usada, violentada, cuspida. E sobreviveu. Ela foi obrigada a
despir-se do seu saber natural para abraçar, incorporar e valorizar referências
externas, como um povo cuja aldeia foi encampada por um império. Dominada. Discriminada.
Forçada a fazer papel duplo, ganhando menos.
O ocidente
se gaba de ser um mundo civilizado, moderno, mas até ontem a mulher não podia
andar sozinha nas ruas, não sabia ler (ou não podia saber), não votava, não
trabalhava por conta própria. Até outro dia, ela não podia trabalhar fora, e se
isso foi possível, o foi como a libertação dos escravos: uma necessidade
capitalista. Não teve qualquer juízo de valor. Quantas pessoas, ocidentais ou
não, olham para uma mulher grávida e pensam realmente que essa pessoa está
sacrificando sua vida pessoal, sua autonomia, sua individualidade e sua
liberdade, em prol de uma outra vida? Quem, senão uma outra mulher, efetivamente
sabe o que isso significa? E mesmo essa mulher, o quanto ela reconhece a
importância de seu papel único na vida? Numa atitude empática, acima de todas
as críticas, muito além do certo e do errado, do bem e do mal, a mulher que
gera um filho está preparada para fazer uma revolução boa para todo mundo.
A revolução
será feminina porque essa esteve nos porões dos navios, das casas; permaneceu
calada ouvindo; foi posta de lado e isso pode ser seu camarote, muitas vezes. Porque
esses valores não foram suplantados com a dominação. O feminino subjacente
continua intuitivo, abrangente, sensível. Continua inclusivo, criativo.
Essa nova
revolução será feminina porque o feminino está deixando de ser uma questão de
gênero, está implodindo o sistema com a criação de novos gêneros, criando o
caos necessário para a mudança de perspectiva. É muito claro que essa ameaça já
está sendo sentida, só pela força da reatividade geral, numa manobra
desesperada dos setores mais conservadores em assumir o poder. E porque nunca
quem está no poder faz uma revolução.
A revolução
feminina não se faz através de bombas, ataques surpresa, limpeza étnica. Mas no
interior das casas, dentro de suas famílias – novas famílias -, olhando com
suavidade e doçura para as diferenças, para as fraquezas, porque o feminino não
é uma sardinha querendo se tornar tubarão. Ao contrário, ela é uma flor
querendo mostrar sua beleza.
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