quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Filosofia da paixão



Eu não entendo nada de Foucault. Como, de resto, não entendo nada de tanta coisa. Mas ainda assim, e, talvez, por esse motivo, me apaixone tanto em ouvir. Fale-me de Foucault, fale-me da vida e de tudo que na vida não faz sentido. De todos os sentidos e direções a serem tomadas. Os propósitos e descaminhos que as pedras desavisadas se impuseram. Faça-me ouvir atentamente todo o vai e vem que for possível dentro e fora de um aquário. Mas faça-me parar para olhar fundo esse seu contar verdadeiro. Porque o olhar no olho me apaixona.

O olhar toca mais que a pele. Tateia como se estendesse a mão em aceitação. Tem palavras que não precisam ser ditas quando o olhar permite. E tem gestos mais precisos no olho que não teme do que é possível em quantos abraços forem dados. Perpassa por ele mais eletricidade, mais significados, mais paisagens do que pela janela do trem, mais calor.

Ou vai ver que qualquer pessoa que fique olhando nos olhos de outra pessoa por algum tempo, um bom tempo, acabe se apaixonando. Sim. Olhar nos olhos, bem dentro deles. Deixar-se embebedar pelo mar profundo, essa alma que se esconde no brilho. Ficar com medo, vergonha, incômodo, depois sim, ter coragem, se abrir, se expor. Sim, sim, sim. Olhar nos olhos é um sim.

Mas a verdade é que me apaixono fácil. Preciso da paixão como do ar. Careço do brilhar os olhos que a paixão me faz tanto quanto me exige a vida que o coração bata no peito. É meu nome. Minha alma. Apaixono-me pelo sorriso antes do café e pelo olhar que sorri depois de tudo. E sobretudo, me apaixono pela poesia que é sorrir com os olhos. Pelo segredo doce escondido no silêncio do canto dos lábios, em sorriso não expresso. Pela poesia que há em não haver mais do que o encontro fortuito de olhares. 

E sim, a intenção me apaixona. A intenção tácita de querer saber ao outro o que não diz. A intenção velada que aprisiona minha vontade. E me faz virar a cabeça acompanhando o gesto. Cada gosto que a palavra dita faz ecoar em mim, como um beijo lembrado no instante seguinte ao adeus. O piscar, o engolir a saliva que sobra na boca de haver muitas emoções. Tudo isso e mais um pouco, todas as formas de ouvir, de querer, de estar, me fazem apaixonar. Por isso, fale-me do que não entendo, faça-me o que não sei, mas olhe-me sem disfarçar, confiante e doce, e assim saberei: na retina guardarei o instante exato em que ganhei o dia. Ganhei a vida. Porque minha vida vale cada paixão que vivi e ainda vivo.

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